segunda-feira, 9 de junho de 2014

A MORTE SEM MESTRE



Foi com estranho prazer que comprei na livraria de bairro Velhotes, perto de casa, o último de Herberto Helder, numa edição extremamente cuidada da Porto Editora (que apetece tocar, manusear) que acolhe agora a obra do nosso mais grandioso poeta vivo, fazendo-me partilhar neste fim de tarde solarengo deste evento que constitui hoje a publicação de qualquer trabalho de Herberto Helder.
Adoraria compreender as condições concretas em que um livro com este peso é concebido, como é que estes versos se formam na cabeça do poeta.
Sem essa possibilidade, fica o poema da página 16:
“e só agora penso:
porque é que nunca olho quando passo defronte de mim
mesmo?
para não ver quão pouca luz tenho dentro?
ou o soluço atravessado no rosto velho e furioso,
agora que o penso e vejo mesmo sem espelho?
- cem anos ou quinhentos ou mil anos devorados pelo
fundo e amargo espelho velho:
e penso que só olhar agora ou não olhar é finalmente
o mesmo”
Desfrutem.

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