Foi com estranho prazer que comprei na livraria
de bairro Velhotes, perto de casa, o último de Herberto Helder, numa edição
extremamente cuidada da Porto Editora (que apetece tocar, manusear) que acolhe
agora a obra do nosso mais grandioso poeta vivo, fazendo-me partilhar neste fim
de tarde solarengo deste evento que constitui hoje a publicação de qualquer
trabalho de Herberto Helder.
Adoraria compreender as condições concretas em
que um livro com este peso é concebido, como é que estes versos se formam na
cabeça do poeta.
Sem essa possibilidade, fica o poema da página
16:
“e só agora penso:
porque é que nunca olho quando passo defronte de mim
mesmo?
para não ver
quão pouca luz tenho dentro?
ou o soluço
atravessado no rosto velho e furioso,
agora que o
penso e vejo mesmo sem espelho?
- cem anos ou
quinhentos ou mil anos devorados pelo
fundo e amargo espelho velho:
e penso que só
olhar agora ou não olhar é finalmente
o mesmo”
Desfrutem.
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