domingo, 1 de junho de 2014

MALABARISMOS ESTATUTÁRIOS




À boleia de mais uma decisão do Tribunal Constitucional, rigoroso e indiferente às pressões dos pretensos salvadores da Pátria, que esta maioria decididamente subvalorizou, António José Seguro (AJS) assumiu na passada sexta-feira à noite uma quase patética postura de Estado e de também salvador dos desígnios do País. Percebi nesse momento que a decisão do TC era uma espécie de rampa de lançamento para que o tão incompreendido AJS marcasse o rumo dos acontecimentos do fim-de-semana agitado no PS, tanto mais que o velho Soares se tinha encarregado de o por ao nível e deixar-se de caldinhos leves para acusar a sua inépcia política que conduziria o partido a uma derrota anunciada.
E como é que o acossado AJS se propôs comandar o rumo dos acontecimentos? Tenho de confessar que com uma meia surpresa. Esperaria que puxasse dos seus galões de profundo conhecedor (a socialização num dado contexto ainda é a melhor forma de aprendizagem) dos meandros estatutários e dos labirínticos mecanismos do aparelho (as tais fidelidades que todo o líder cultiva). E assim foi. A surpresa veio do coelho na cartola das eleições primárias abertas para primeiro-ministro (simultâneas com eleições para as Federações, jogada meramente aparelhística), que curiosamente aqui tinha antecipado embora noutro contexto, sem contudo ceder na realização de congresso extraordinário, obrigando Costa a movimentar-se nesse sentido.
No contexto da crispação criada, tenho de convir que a bicefalia primeiro-Ministro e liderança partidária pode não funcionar.
Mas a apreciação que faço é que quanto mais recorrer aos galões do aparelhismo mais AJS se enterra e com ele o PS vai cavando a sua trajetória para um PS à moda do PSOE e do PSF atuais. As pessoas normais, que abdicaram de frequentar tão limitados meios de reflexão e racionalidade como o são os ambientes partidários, já não podem esse esgrimir de malabarismos estatutários.
Com tudo isto o PS perde capacidade de interpelação do PCP e do Bloco de Esquerda, tão necessitados de quem os interpele. O PCP rejuvenesce nos rostos mas nas ideias, deus meu, continua preso a retóricas de protesto, não contribuindo nem um milímetro para novos cenários de governação. O Bloco pareceu rejuvenescer mas ideias, mas carenciado de causas, afunda-se na inutilidade. O pântano que levou Guterres a procurar outros mundos para ser feliz com a sua consciência parece voltar ao léxico. A agitação segue dentro de momentos, mas uma coisa é certa, os portugueses não precisam de malabarismos partidários. Poderá António Costa falar para fora e para os eleitores e simultaneamente induzir os de dentro a pensar fora dos taticismos partidários? Há dias, em post anterior, estava pessimista quanto a isso e nem o sol e o verde de Seixas conseguiram atenuar essa sensação.

Sem comentários:

Enviar um comentário