Já aqui vos mencionei que, embora Thomas Piketty
seja hoje o nome mais badalado nestas questões da desigualdade, o investigador
mais consistente sobre a desigualdade a nível mundial é Branko Milanovic,
ex-economista chefe do Banco Mundial para este tema e hoje recém-colega de
Krugman no Luxembourg Income Study Database (LIS).
O Global Inequality (blogue de Milanovic) divulgou na semana passada o texto da conferência de Milanovic na Fondazione
Centesimus Annus no Vaticano, o que significa que o tema está a
penetrar o pensamento da igreja, o que não é novidade dada a aragem fresca de
mudança que o Papa Francisco trouxe a esse pensamento.
O que interessa destacar da conferência de
Milanovic é a evidência segura de que os últimos 25 anos trouxeram à esmagadora
maioria das economias de mercado indicadores consistentes de agravamento da
desigualdade. A medida mais simples e divulgada para essa medida é a do
coeficiente de GINI.
Milanovic compara os GINI médios observados no
período 1985-1990 com os que tenderam a observar-se após 2008 e conclui que
esse indicador passa em termos médios de 36.3 para 38.8 o que anuncia um
agravamento da desigualdade. Essa conclusão resiste quando ponderamos o
indicador de desigualdade quer pela população, quer pela massa do PIB e em
ambos os casos o GINI médio passa, respetivamente, de 33.9 para 37.3 e de 32.2
para 36.4.
Mas nos resultados obtidos há cartas baralhadas.
Os países de menor GINI, conhecidos por apresentarem
variedades do capitalismo distributivas e mais igualitárias, vêm agravado o seu
GINI, que passa de 32.0 para 36.2, caso por exemplo de uma Suécia. Por sua vez,
os países de maior GINI, menos igualitárias e distributivos, melhoram a sua
desigualdade, passando o seu GINI médio de 42.8 para 39.5. O Brasil é talvez o
exemplo mais marcante desta família de países.
Estes dados significam que, em matéria de
desigualdade, as variedades do capitalismo estão em mudança, destacando-se a
evidência consistente de que as economias mais avançadas, incluindo s Suécia,
estão em fase de agravamento da desigualdade, o que vem no alinhamento do outro
tipo de investigação avançada por Piketty. Mas os dados mostram também que a
desigualdade não é um anátema. O Brasil mostrou que o crescimento pode ser distributivo,
embora seja necessário observar no futuro se as melhorias de desigualdade no
Brasil são sustentadas ou reversíveis.
O gráfico que abre este post compara os GINIS após 2008 com os verificados no período
1985-1990. Os países colocados acima da reta dos 45 graus são os que
verificaram um aumento de desigualdade e os abaixo dessa linha o fenómeno contrário.
O gráfico abaixo é um dos favoritos de Milanovic.
Analisa o comportamento do rendimento real entre 1998 e 2008 para os diferentes
percentis da população a nível mundial.
Para os meus interesses atuais de pesquisa, o
trabalho conjunto sobre classe média com a amiga Pilar Gonzalez, o gráfico
acima mostra que o percentil 80º da população mundial, que se identifica em
grande medida com a classe média das economias mais avançadas, evidencia um
crescimento nulo do seu rendimento. O top 1% mais rico da distribuição mostra, pelo
contrário, a já conhecida evolução fortemente crescente, só superado pelos
percentis 50º a 55º que identificam elites das economias emergentes.
Sem comentários:
Enviar um comentário