A forma como a imprensa e a comunidade política portuguesas reagiram à comunicação desta semana da Comissão Europeia, segundo a qual Portugal teria sido colocado sob vigilância por “desequilíbrios económicos excessivos” e requerendo “ação política decisiva e monitorização específica”, é bem evidenciadora da continuada dominância nessas sedes da preguiça e da desinformação. Porque aquilo de que se tratou naquele dia foi do anúncio de uma decisão tomada no âmbito dos procedimentos normais de acompanhamento da situação macroeconómica dos países europeus – o chamado “Semestre Europeu” –, sendo apenas que no caso português a tal tínhamos passado a prestar escassa atenção pelo facto de o chamado “programa da Troika” (também dito de assistência financeira) fazer com que estivéssemos fora desses procedimentos e sob uma vigilância mais intensiva. Daí que não haja realmente muito para estranhar – embora se deva registar que a Irlanda e a Espanha apenas tenham sido consideradas como “em desequilíbrio” (sem a classificação de excessivo) – nem grandes razões para assobiar para o lado perante os assinalados riscos ligados aos insustentáveis níveis de dívida e de desemprego que nos diferenciam.
A verdadeira notícia, neste domínio, foram os dois anos adicionais concedidos a França e Itália para atingirem a meta do défice de 3%, o que as autoridades bruxelenses (na pessoa do ex-ministro francês e atual comissário Moscovici) aproveitaram para anunciar à mais disfarçada boleia do pacote geral. Algo que não agradou aos alemães – que comeram sem calar – mas que dará tempo a Hollande para terminar em devida glória e apenas com pequenas perturbações o seu amoroso mandato, nada afinal a que não estejamos já devidamente habituados nesta Europa tão pouco transparente e cada vez mais feita de filhos e enteados...
(Kak, http://www.lopinion.fr)
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