segunda-feira, 2 de março de 2015

TEM JEITINHO E ATÉ BONS PÉS, A MORAL...


Tudo na notícia é um extraordinário conto para crianças, dos factos às reações aos mesmos! O aparentemente austero e bem falante primeiro-ministro de Portugal, à época deputado da Nação, não só acumulou dívida à Segurança Social durante cinco anos (!) como veio dizer que não conhecia a lei em questão (!) e que nunca de tal ter sido notificado (!) mas que até ia pagar quando terminasse o mandato (!), embora tenha acabado por decidir entregar voluntariamente (!) cerca de 4 mil euros e ordenado ao jovem Mota, ministro da pasta, que viesse a terreiro explicar que o erro até fora da Administração (!).

Escolhi dois comentários desta manhã, cada um ao jeito de cada qual: o mais sério vem de António Costa, o homónimo diretor do “Diário Económico”; o mais jocoso é de Bruno Nogueira no seu “Tubo de Ensaio” de hoje na TSF. Espero que gostem!

“Pedro Passos Coelho, o primeiro-ministro, criou a partir de 2011 o sistema mais agressivo de intrusão da máquina fiscal e da Segurança Social na vida dos contribuintes. Pedro Passos Coelho, o cidadão, não sabia em 2002 que tinha de pagar contribuições à Segurança Social, acumulou dívidas e foi pagá-las depois de ser questionado pelo jornal Público. Não é uma coisa menor. A sorte do cidadão foi a bondade do Estado, se fosse outro cidadão a bondade teria sido a mesma? Só a dúvida diz tudo sobre o nosso estado e o que ainda falta fazer.”

“Passos Coelho esteve cinco anos sem pagar à Segurança Social – eu vou repetir porque às vezes as pessoas podem pensar que não estão a ouvir bem esta notícia: Passos Coelho, primeiro-ministro de Portugal, esteve cinco anos sem pagar à Segurança Social. Espetáculo! Devem ter-lhe penhorado os caniches – afinal não, o primeiro-ministro diz que nunca foi notificado da dívida criada entre 1999 e 2004 e adiantou que já pagou este mês 4 mil euros depois do jornal Público ter dado com o caso. A direita portuguesa até veio dizer que o Público já fez mais pelo combate à fuga aos impostos que o Syriza – é verdade, não somos a Grécia mas o nosso primeiro-ministro tem costumes gregos e consta que os paralíticos da Grécia juntaram-se para pagar a Segurança Social de Passos. Agora já todos percebemos porque é que Passos queria acabar com a Segurança Social, porque sempre eram 4 mil euros para as férias. Para começar faz-me um bocadinho de confusão porque até para concorrer ao ICA é preciso ter a Segurança Social em dia mas para se ser primeiro-ministro pelos vistos não. Se bem me recordo do escândalo da Tecnoforma, provavelmente Passos só não pagou a Segurança Social porque na altura estava ocupado a pedir o subsídio de exclusividade. Ou, então, se calhar Passos não pagou a Segurança Social para pagar as propinas do curso do Relvas. Não querendo fazer grande caso desta dívida de Passos Coelho, segundo consta Passos era o maior devedor a seguir à Grécia: a verdade é que estes 4 mil euros, parecendo que não, ainda são 4 anos de depósito cheio na mota do Mota Soares. Mota Soares que se apressou a vir dizer que Passos Coelho foi vítima de erros da Administração – portanto, os do RSI são aldrabões e Passos Coelho foi vítima, grande ministro da Segurança Social! Há três pontos a favor do nosso primeiro-ministro nesta história: para começar, há que reconhecer que Passos, no que toca a poupar, não brinca – só pagou a Segurança Social quando foi questionado por um jornal; e confirma-se que Passos é um homem de princípios porque já em 2009 não acreditava na Segurança Social; e de certa forma a facilidade com que o nosso primeiro-ministro paga 4 mil euros de um dia para o outro, sem pedir emprestado a amigos mostra que Portugal está melhor. O que é mais incrível nesta história dos impostos por pagar, e da Tecnoforma, etc., é que é impressionante como Passos Coelho era um chico esperto até vir para primeiro-ministro – realmente não há nada como a responsabilidade do cargo para endireitar uma pessoa. Mas se eu fosse o nosso primeiro-ministro não dormia descansado porque consta que a Maria Luís pediu ao Schäuble que seja duro com Passos e com todos esses caloteiros. Agora tás feito, meu menino, até o Varoufakis, que é grego, tem os impostos em dia!”

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