(A expressão vem de Gideon Rachman do Financial Times, mas descreve bem o estado do mundo globalizado no despertar de 2016)
Gideon Rachman, analista internacional do Financial Times, acabou o ano de
2015 com uma crónica que ilustra bem o mundo que vamos ter em 2016. Escolhi a
ideia de “um mundo que não se recomenda” como um dos temas do ano de 2015, e a expressão
da “ansiedade globalizada” cunhada por Rachman ajusta-se como uma luva ao que
nos espera neste ano que desperta.
Sabemos que a economia mundial não está propriamente atomizada. Ela organiza-se
em torno de um conjunto de poderes, em número relativamente reduzido, os quais
estruturam por sua vez as respetivas áreas de influência. Não é claro hoje qual
a estrutura de influência que marca a trajetória das economias emergentes. Mas,
regra geral, há sempre um ou dois dos poderes estruturantes que apresem perspetivas
económicas e políticas mais animadoras. Essa regra também nos elucida que quando
isso se verifica a turbulência mundial não chega a traduzir-se por grandes
recessões.
A crónica de Rachman chamava a atenção para o facto de, contra a normalidade,
hoje ser difícil identificar um foco de poder que a interação do económico e do
político produza um horizonte confiável e esperançoso. No seio da economia mundial,
talvez caiba aos EUA compensar a perda de energia de todo o mundo económico, a
começar pelos emergentes que vivem momento de elevada incerteza. Não raras
vezes, como o caso do Brasil assim o ilustra, essa perda de energia vem
associada a questões escabrosas no plano político, anunciando por essa via
fracas perspetivas de geração de maiorias com capacidade de “pegar o touro
pelos cornos”. Rachman vai ao ponto de afirmar que a principal força de
incerteza na economia mundial é hoje política, embora possamos avançar que
parte dessa incerteza advém de performances económicas pouco saudáveis. A
economia mundial continua a conviver mal com os radicalismos religiosos, em
vias de descontrolo absoluto e, em muitas paragens, em combustão rápida alimentada
pela deterioração dos preços do petróleo e com ela a fragilização da base económica
que aguentava toda a delapidação de excedente em que tais regimes estão
baseados.
Os EUA são do ponto de vista político uma grande
incerteza, embora no plano económico tudo indica que tenderão a ser a força que
vai aguentar a debilidade dos restantes poderes estruturantes da economia
mundial. E, mesmo do ponto de vista económico, o debate da estagnação secular
na economia americana mostra que as coisas podem não estar seguras. No plano
político, na próxima eleição presidencial estarão em jogo vários
posicionamentos possíveis para os EUA no mundo e isso não será indiferente ao
ambiente de “ansiedade globalizada”.
Do Japão e da União Europeia pouco haverá de esperar. No primeiro
caso, fazem-se figas para que o ciclo já longo de deflação e dívida possa ser
vencido, esperando que do ponto de vista político o relacionamento com a China
tenha pelo menos alguma estabilidade. Na Europa, as convulsões internas continuam
tais que seria pretensioso admitir que, mesmo que ponderando a sua dimensão
económica, possa daí esperar-se alguma influência motora para a economia
mundial.
Ansiedade globalizada: uma oportunidade para o universo dos
ansiolíticos.
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