(Qualquer
tentativa de comparação entre a situação espanhola e a portuguesa estará condenada ao fracasso devido
sobretudo às diferenças no sistema de atores)
Os resultados das eleições espanholas de 20 de dezembro
conduziram em meu entender a uma situação de impasse tal que, um mês após esse
ato eleitoral, não se vislumbra qualquer saída possível para tal imbróglio,
pelo menos em termos de saída sem danos significativos para algumas das forças
políticas envolvidas em negociações para um governo. A queda da votação do
CIUDADANOS face às expectativas criadas, a mais que esperada insuficiência
eleitoral do PSOE e o resultado mais que positivo do PODEMOS combinadas com a
questão catalã produziram o impasse. O PP parece não poder contar com ninguém
para dançar o tango a dois ou a três. O PSOE parece encurralado entre fações
internas que apertariam o nariz e pactariam com o PODEMOS e os grupos mais
tradicionalistas do partido que não estão dispostos a esquecer as sucessivas
humilhações e ataques que a formação política de Pablo Iglésias. O CIUDADANOS
não teve a expressão eleitoral que esperava para poder liderar alguma parceria
de governação, mesmo que isso tenha sido possível para a eleição do presidente
do Congresso de Deputados, com a eleição de Patxi López, socialista vasco. Os
partidos regionalistas, independentistas ou não, estão suficientemente atolados
para poderem pensar em mais altos voos e quedam por isso reféns de tudo o que
se passar fora do seu raio de alcance.
Curto e grosso, os programas de ajustamento na Europa do
Sul produziram no plano político mais uma anomalia de não governabilidade e por
isso mais um fator a débito para o rasto de tão funesta abordagem.
Alguma esquerda irrefletida terá pensado que uma situação
à portuguesa poderia emergir como saída para o impasse e o próprio Pablo
Iglésias terá à revelia do PSOE anunciado ao Rei que aceitaria um governo
PSOE-PODEMOS- IZQUIERDA UNIDA com ele a vice-presidente do Governo. Não quero
fazer futurologia e nada me garante que Sanchéz não queira fazer resvalar o
PSOE para o abismo aceitando tal aliança de governo. Mas se pensarmos bem a
comparação com a situação portuguesa à António Costa não tem pés nem cabeça. Em
primeiro lugar, por mais juventude que dê mostras, Pedro Sánchez não tem o
lastro de António Costa. Segundo, os peso-pesados do PSOE que se opõem
ferozmente a uma aproximação-acordo com o PODEMOS comparam com os plumas dos
seguristas no PS, não me parecendo que ficassem satisfeitos apenas com um
jantar de cochinillo assado num restaurante
de eleição de Madrid. Terceiro, não há um PCP em Espanha e isso faz toda a
diferença. Quarto, o PODEMOS parece-me uma força bastante
mais instável e inorgânica do que o Bloco de Esquerda e bastante menos confiável.
Quinto, a questão da corrupção revelou-se bem mais em Espanha do que em
Portugal, trazendo com essa revelação novas impossibilidades de alianças políticas.
No meu entender, tudo isto quer dizer que a situação do
PSOE é bem mais ilustrativa da crise profunda dos partidos socialistas e
social-democratas do que a situação em que o PS incorre. O rejuvenescimento do
partido com a chegada de Pedro Sánchez à liderança mostra que a questão é mais
estrutural do que a simples mudança de líder e que a cumplicidade com os
populares europeus demorará uma eternidade a ser invertida.
O clima que se tem vivido nas negociações ou um simulacro
das mesmas para uma eventual investidura de primeiro-ministro ainda atola mais
as forças políticas espanholas. A situação está tão enredada e viscosa que nem
uma improvável saída de cena de Rajoy contribuiria para a eventualidade de um
acordo. Posso ser surpreendido com a evolução dos acontecimentos. Mas nestas
ocasiões o melhor será ouvir de novo o povo espanhol e o pior é que ninguém se
atreve a vaticinar o que quer que seja. É de ingovernabilidade que poderemos
estar a falar ou então de sérios cataclismos nalgumas das forças políticas em
contenda. Os diretórios de Bruxelas podem querer lavar as mãos, mas não me
parece que haja sabão para o fazer.
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