(É de uma enorme interrogação
que se trata, pois algo me
diz que a história de Colónia não está bem contada ou, pelo menos, tem vazios
de informação)
Estive este fim-de-semana envolvido com dois textos do
sociólogo polaco de provecta idade, Zygmunt Bauman, radicado em Leeds, Reino
Unido: um texto publicado pelo Social Europe, centrado no tema da insegurança
social e do campo de manobra que ela está abrir ao extremismo político securitário
e uma entrevista ao El País a propósito de uma conferência em Burgos a que o velho
sociólogo ainda teve forças para lhe dedicar uma viagem e o seu pensamento. O
tema da insegurança nos tempos de hoje é de uma relevância política irrecusável,
sobretudo quando se assiste a uma transferência nem sempre clara de sentimentos
coletivos e individuais de insegurança para a hoje chamada “securitização”,
onde os temas sociais importam, e lá sabem porquê, um termo da sofisticação financeira
tão em foco nos acontecimentos de 2007 e 2008. Não deixa de ser absurdo que, em
tempos em que a insegurança nas condições de existência associada às diferentes
formas de precarização que Bauman tão pertinentemente analisa como fatores
geradores de uma profunda descredibilização dos agentes políticos, sejam frequentemente
os mesmos que se arvoram como os principais artífices dessa transferência obscura
da insegurança para a “securitização”.
(Zygmunt Bauman)
Pois quando refletia na profundidade do pensamento de
Bauman não pude deixar de integrar nessa reflexão o artigo de António Barreto
no Diário de Notícias com o provocatório título de “A orgia de Colónia”.
A perplexidade acerca do acontecimento, a certeza de que
a informação sobre a noite de Colónia nos chegou truncada e carregada de suspeições,
a posição firme das feministas alemãs que denunciaram as agressões e ao mesmo
tempo se distanciaram de todo o aproveitamento neonazi e de extrema-direita que
o mesmo suscitou conduziram-me rapidamente à convicção de Bauman não podia
estar mais certo. Estaremos perante uma grosseira encenação de vida urbana para
apertar Merkel nos seus propósitos de receção de refugiados? Ou estaremos
perante uma encenação de outro tipo, tentando ocultar a presença de eventuais
refugiados recém-chegados às cidades-alemãs nas agressões de teor sexual que se
terão observado na noite de Colónia e pelos vistos noutras cidades? Qualquer
que seja a natureza real dos acontecimentos de Colónia, a transferência pouco
transparente entre a insegurança e a securitização está no centro do problema e
diz-nos bem da gravidade profunda da deriva em que a Europa está mergulhada. E
sobretudo com a perceção de que não tivemos uma informação rigorosa do que efetivamente
se passou.
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