(Como é difícil nesta
cacofonia de candidaturas fazer
passar alguma mensagem!)
Tenho conflito de interesses nesta matéria. Sou apoiante
de António Sampaio da Nóvoa, tenho alguma relação de proximidade com o
candidato porque tive com ele afinidades profissionais, tenho por ele uma grande
estima pessoal e intelectual e subscrevi um manifesto de apoio gerado no Porto à
sua candidatura. Por razões de estrita indisponibilidade pessoal, não tenho porém
acompanhado de perto a sua candidatura e não tive qualquer influência na produção
de ideias em torno da sua candidatura porque para isso não fui solicitado.
Pelas mesmas razões de disponibilidades de tempo não
tenho acompanhado com a atenção devida a totalidade dos debates que rádios e canais
de televisão têm acolhido, mas a sensação é que com dez candidaturas a cacofonia
está no ar e torna-se bem difícil descortinar alguma mensagem que se salve. O
que é lamentável porque o país precisaria de algumas dessas mensagens.
Tenho entretanto tido a preocupação de me informar junto
de alguns apoiantes com presença no acompanhamento do processo e recolhi a observação
que já foi visível na candidatura de Manuel Alegre quando em seu devido tempo
conquistou 20% do eleitorado que depois politicamente se esboroou. Os aparelhos
de candidatura estão muito centralizados em Lisboa e parecem não querer dar um
pequeno espaço que seja a apoios e a ideias vindas do Porto. Eles lá sabem
porquê e estou em crer que os candidatos ou se refugiam em processos estritamente
individuais como Marcelo Rebelo de Sousa parece querer transmitir ao eleitorado
ou, quando constroem esses grupos, acabam por ficar prisioneiros das ideias que
por circulam nesses grupos restritos. A descentralização nestes processos é
palavra vã e tais grupos parecem querer optar por nomes, nomes, nomes e poucas
ideias que arrebatem os portugueses.
Tenho de confessar que a evolução do meu candidato tem
sido algo dececionante, sobretudo porque não vislumbro nos últimos tempos qualquer
trajetória de crescendo nas ideias que transmite. E não é difícil perceber que
nas questões da economia há pouco trabalho de preparação do candidato para os
embates de ideias que tem vindo a travar. Isso foi visível, por exemplo, no
debate com Henrique Neto, bem mais preparado para o debate do que Nóvoa e que,
a meu ver, dominou claramente o debate. Diria mesmo que António Nóvoa está hoje
menos entusiasmado do que nos primeiros tempos de lançamento da sua candidatura
e vá lá saber-se porquê. A ideia de que Nóvoa continua em meu entender a ser o
candidato que melhor serve, do ponto de vista presidencial, o acordo que tornou
possível o governo minoritário do PS mantém-se válida, apesar do rombo no porta-aviões
que o fracionamento, pour cause do PS
representou para a candidatura. Aliás, só nesse cenário Marcelo Rebelo de Sousa
seria obrigado a dar corda aos sapatos. A bonomia com que o Professor ouve os
impropérios mais diretos e penalizadores à sua candidatura e personalidade já
irrita. Não quero acreditar que o melhor que a esquerda tem para apresentar em
termos de resultado seja um segundo lugar de Maria de Belém. Com esse cenário,
o Professor continuará a passear a sua bonomia, seja comendo as suas sandes de
queijo e as suas bolachas Maria, seja tragando um cálice em qualquer bar
popularucho. No fundo, o governo atual agradece já que estaria longe de
imaginar que iria ter em MRS uma almofada para os primeiros embates.
A ideia das 40 personalidades que a candidatura de Nóvoa
apresentou hoje associadas a outros tantos temas relevantes de candidatura pode
ser potenciadora de alguma novidade sobretudo se for consistentemente
trabalhada e não se esgotar na cerimónia de hoje. A sua ideia de organizar a
Casa Civil segundo um outro modelo que permita uma maior porosidade da Presidência
aos grassroots da sociedade
portuguesa tem um grande potencial. Mas tudo isso implica que Nóvoa se
concentrasse então nessa forma de interpretar a Presidência e assumisse que as
questões da economia são para o Governo. Mas pelo menos uma resposta à agressividade
de Henrique Neto seria necessária, até para o colocar nos eixos e desfazer a
ideia de que só ele tem ideias sobre o futuro do País.
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