(Talvez seja
revivalismo careta, próprio de cotas incorrigíveis, mas o regresso dos Ficheiros Secretos para
uma curta passagem pela Fox marcará o início do ano televisivo)
Continuo inapelavelmente agarrado à televisão em tempo
real, mesmo sabendo que as boxes, mais ou menos sofisticadas, hoje transformam
esse tempo real em fenómeno e memória digital, visualizável a toda a hora. Mas
o fascínio do tempo real de edição continua aí, talvez apenas por impulso
passadista e sem sentido.
Depois, paradoxalmente, sou dos que não alimentam grandes
esperanças por revivalismos de dimensão artística, com regressos e
prolongamentos fora de tempo a edições de outrora, com os mesmos protagonistas.
Alguns desses regressos tornam-se deprimentes. Para os filmar só provavelmente
um Fellini, capaz de combinar sarcasmo e ternura. É claro que há contas para
pagar ao fim do mês, que muitos dos protagonistas que nos encantaram bem lá
atrás não vivem propriamente desafogados e muitos deles nunca conseguiram superar
a queda do estrelato e da notoriedade. Frequentemente, são arrastados para
essas reedições por produções que elas próprias ficaram reféns do êxito passado
e nunca mais encontraram de novo o filão de outrora.
Ora, apesar destes meus maus pressentimentos, o
reaparecimento dos X files para uma brevíssima série de novos episódios é para
mim um acontecimento, televisivo e não só. Não estou interessado em saber se
Gillian Anderson (mas que beleza serena!) reivindicou ou não a mesma
remuneração de David Duchovny (com um nome destes teria de ir parar ao
paranormal) para este regresso às origens. Para mim estou simplesmente
interessado no confronto e aproximação entre o duplamente crente Mulder
(católico e acreditando nas evidências do paranormal e da vida extraterrestre) e
a cética e ateia Scully, em mergulhar nas paranoias cabalísticas, na
desproteção do indivíduo face às forças poderosas, nos personagens mais recônditos das
sociedades mais secretas, afinal em tudo que fez dos X files um dos mais
elegantes e melhores espetáculos de televisão de sempre.
O VOX de 24 de janeiro sublinha o aspeto não despiciendo
do aparecimento da série em 1993 ter sido concretizado no dealbar da internet,
com a utilização dos telemóveis na série a representar o que na época simbolizava
a futuro tecnológico e a sua influência sobre a vida humana e coletiva. Veremos
o que o regresso nos anuncia e o que acrescenta aos 201 episódios realizados. O
modo como o VOX o antecipa é em si mesmo misterioso:
“This is not The X-Files at its
best, but it is The X-Files at its most pure — two people, driven by a kind of
chaste, courtly love that they would rather not acknowledge, disappearing into
the darkest corners of a country that would rather not have its darkest corners
explored. They hold flashlights, hoping that might be enough. Não serão os X-files
no seu melhor, mas são-no no seu estado mais puro – duas pessoas, levadas por
um tipo de amor casto e delicado que prefeririam não reconhecer, desaparecendo
nos cantos mais obscuros de um país que preferia não ter esses cantos mais
obscuros explorados. Seguram lanternas de aviso, esperando que isso seja
suficiente.”
Gilian Anderson, 47 anos, três filhos, respondeu assim à
jornalista Rachel Cooke do El Mundo Life style que lhe perguntava há quanto
tempo estava só: “Depende. Já há um par
de anos que não tenho nenhuma relação. Mas não estou ansiosa, nem interessada
em começar a sair com alguém que não encaixe comigo. A gente diz-me “Oh é tão
gracioso. O problema é que o físico não me interessa para nada”.
O ambiente ideal para o regresso aos X files.
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