terça-feira, 26 de janeiro de 2016

SCULLY E MULDER




(Talvez seja revivalismo careta, próprio de cotas incorrigíveis, mas o regresso dos Ficheiros Secretos para uma curta passagem pela Fox marcará o início do ano televisivo)

Continuo inapelavelmente agarrado à televisão em tempo real, mesmo sabendo que as boxes, mais ou menos sofisticadas, hoje transformam esse tempo real em fenómeno e memória digital, visualizável a toda a hora. Mas o fascínio do tempo real de edição continua aí, talvez apenas por impulso passadista e sem sentido.

Depois, paradoxalmente, sou dos que não alimentam grandes esperanças por revivalismos de dimensão artística, com regressos e prolongamentos fora de tempo a edições de outrora, com os mesmos protagonistas. Alguns desses regressos tornam-se deprimentes. Para os filmar só provavelmente um Fellini, capaz de combinar sarcasmo e ternura. É claro que há contas para pagar ao fim do mês, que muitos dos protagonistas que nos encantaram bem lá atrás não vivem propriamente desafogados e muitos deles nunca conseguiram superar a queda do estrelato e da notoriedade. Frequentemente, são arrastados para essas reedições por produções que elas próprias ficaram reféns do êxito passado e nunca mais encontraram de novo o filão de outrora.


Ora, apesar destes meus maus pressentimentos, o reaparecimento dos X files para uma brevíssima série de novos episódios é para mim um acontecimento, televisivo e não só. Não estou interessado em saber se Gillian Anderson (mas que beleza serena!) reivindicou ou não a mesma remuneração de David Duchovny (com um nome destes teria de ir parar ao paranormal) para este regresso às origens. Para mim estou simplesmente interessado no confronto e aproximação entre o duplamente crente Mulder (católico e acreditando nas evidências do paranormal e da vida extraterrestre) e a cética e ateia Scully, em mergulhar nas paranoias cabalísticas, na desproteção do indivíduo face às forças poderosas,  nos personagens mais recônditos das sociedades mais secretas, afinal em tudo que fez dos X files um dos mais elegantes e melhores espetáculos de televisão de sempre.


O VOX de 24 de janeiro sublinha o aspeto não despiciendo do aparecimento da série em 1993 ter sido concretizado no dealbar da internet, com a utilização dos telemóveis na série a representar o que na época simbolizava a futuro tecnológico e a sua influência sobre a vida humana e coletiva. Veremos o que o regresso nos anuncia e o que acrescenta aos 201 episódios realizados. O modo como o VOX o antecipa é em si mesmo misterioso:

This is not The X-Files at its best, but it is The X-Files at its most pure — two people, driven by a kind of chaste, courtly love that they would rather not acknowledge, disappearing into the darkest corners of a country that would rather not have its darkest corners explored. They hold flashlights, hoping that might be enough. Não serão os X-files no seu melhor, mas são-no no seu estado mais puro – duas pessoas, levadas por um tipo de amor casto e delicado que prefeririam não reconhecer, desaparecendo nos cantos mais obscuros de um país que preferia não ter esses cantos mais obscuros explorados. Seguram lanternas de aviso, esperando que isso seja suficiente.”


Gilian Anderson, 47 anos, três filhos, respondeu assim à jornalista Rachel Cooke do El Mundo Life style que lhe perguntava há quanto tempo estava só: “Depende. Já há um par de anos que não tenho nenhuma relação. Mas não estou ansiosa, nem interessada em começar a sair com alguém que não encaixe comigo. A gente diz-me “Oh é tão gracioso. O problema é que o físico não me interessa para nada”.

O ambiente ideal para o regresso aos X files.

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