domingo, 31 de janeiro de 2016

SOBRE O ESTADO DO MUNDO


(Andrés Rábago García, “El Roto”, http://elpais.com)

Está para muito breve a realização da 52ª “Munich Security Conference”, aquela que se foi tornando desde 1963 a maior realização mundial independente na área da política de segurança internacional. Repetindo o sucesso do ano passado, os organizadores acabam de dar a conhecer o relatório (capa acima) que avalia as principais linhas de força do que estará a discussão visando uma análise aprofundada e fundamentada dos riscos e desafios em presença – e o título fala já largamente por si: “Boundless Crises, Reckless Spoilers, Helpless Guardians”, what else?

Não querendo ser agoirento nesta minha mera chamada de atenção para um trabalho que integra elementos de grande originalidade e relevância, sempre terei que sublinhar dois apontamentos que especialmente me ressaltaram do dito relatório: o primeiro é assustador e traduz-se no risco de uma confrontação nuclear na região Euro-Atlântica se apresentar hoje maior do que em algum outro momento desde o final da chamada “guerra fria”; o segundo prolonga o susto ao indiciar com todas as letras que o Ocidente se mostra particular e crescentemente impotente para exercer uma influência cabalmente eficaz sobre a evolução dos acontecimentos globais, muito por via de uma situação europeia que junta um reconhecido falhanço das suas incursões em matéria de política externa e de segurança a um progressivo e visível processo de desintegração interna (crise endémica da união económica e monetária, ameaça forte de uma saída do Reino Unido das Comunidades, questão dos refugiados e suas implicações sobre Schengen e a liberdade de circulação de pessoas no Continente, só para focar o que de mais essencial ressalta no presente).

Recomendo a consulta dos variados detalhes informativos que constam do relatório, termino com três simples excertos elucidativos:

· Sobre as crises sem fronteiras: “Mas à medida que os conflitos se vão tornando sem fronteiras e que decresce acrescidamente o efeito limitador das fronteiras, as fronteiras estão também a fazer o seu regresso. Desde a queda do Muro de Berlim, mais de 40 países em todo o mundo erigiram barreiras contra mais de 60 dos seus vizinhos, com 15 novos muros a serem construídos só em 2015. Na Europa, a área sem fronteiras de Schengen está sob ameaça. E houve fronteiras que mudaram pela força, assim como disputas fronteiriças – da Ucrânia às ilhas artificiais no Mar da China do Sul – que contribuíram para um ambiente de segurança mais perigoso.”

(Andrés Rábago García, “El Roto”, http://elpais.com)

· Sobre os guardiões indefesos: “A Europa falhou até agora na construção de uma credível política externa e de segurança comum, tal como previsto no Tratado de Lisboa com arranjos institucionais visando uma ação decisiva na gestão de crises. Em vez disso, Bruxelas continua a estar incapacitada por força de múltiplos problemas essenciais: acordos precários sobre as sanções contra a Rússia; continuados pontos de interrogação em torno da Grécia e do Euro; a ameaça do ‘Brexit’ e de um relançamento de fronteiras; e, talvez o mais importante de tudo, um ressurgimento de nacionalismos e populismos antiliberais de direita. Como Anne Applebaum observou: ‘se a própria Europa se tornar disfuncional, a Europa ficará incapaz de ajudar quaisquer outros’. E, portanto, a Europa não irá ser capaz de desempenhar um papel global minimamente significativo no futuro.”

(Ingram Pinn, http://www.ft.com)

· Sobre os destruidores imprudentes: “A crise nas relações russo-ocidentais continua a ser séria. E à luz de numerosos encontros e incidentes militares, o risco de uma escalada involuntária é inegável. ‘O risco da utilização de armas nucleares na região Euro-Atlântica está em crescimento – e é maior do que alguma vez foi desde o fim da Guerra Fria’, adianta um relatório da ‘Nuclear Threat Initiative’. Na Ásia, o acréscimo de assertividade chinesa – muito visível nas artificialmente construídas ilhas chinesas do Pacífico – continua a preocupar os seus vizinhos mais pequenos, que desejam um papel mais forte dos EUA na região. No Médio Oriente, as relações entre o Irão e a Arábia Saudita dificilmente poderiam ser piores na ausência de uma confrontação militar direta. As tensões entre a Turquia e a Rússia têm crescido vertiginosamente.”


E assim vai girando em girândola este nosso maravilhoso mundo…

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