quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

FELIPE DISSE DE SUA JUSTIÇA




(Pressionado pela grande desorientação que reina no PSOE a propósito do enredo pós 20 de dezembro, a entrevista de Felipe González só pode ter uma leitura e essa não é nada favorável a Pedro Sánchez)

O imbróglio em que a situação política espanhola se transformou após as eleições de 20 de dezembro e a cacofonia dos pronunciamentos diários das principais lideranças políticas estáo a produzir consequências inesperadas. Se em alguma medida os resultados alcançados por algumas formações políticas proporcionaram alguma descompressão do ambiente de desconfiança e repúdio instalado em relação aos partidos políticos, as peripécias que têm rodeado a formação do governo ainda mais têm pressionado essa desconfiança. A situação está tão bloqueada que se chega ao cúmulo de antecipar que nem um novo ato eleitoral a curto prazo poderá desatar o pesado lio em que a Espanha está mergulhada. As reduzidas sondagens disponíveis sugerem que das formações políticas em disputa apenas, imaginem, o PP não perderia votos em relação ao último escrutínio. Já tenho aqui sublinhado que a carga dos trabalhos que pesa no lombo do PSOE representa bem o coração da decadência dos partidos socialistas e social-democratas europeus. O PSOE está positivamente encurralado entre o desejar novas eleições que agravariam provavelmente a sua queda eleitoral, não inviabilizar a governação do PP o que tenderia a perder provavelmente a sua já pequena representatividade política à esquerda ou precipitar um acordo com o PODEMOS, tendo que aguentar este no governo e assim provavelmente provocar uma rebelião interna dos que se recusam a pactuar com a humilhação que algumas declarações de Pablo Iglésias sobre o PSOE têm provocado. Isto é muito mais do que a quadratura de um círculo.

Escudando-se na necessidade de se pronunciar para cortar pela raiz as pretensões de invocação do seu nome, Felipe González saiu da toca e deu ontem uma entrevista ao El País na qual se pronuncia sobre a posição recomendada para o PSOE. No meio de afirmações típicas de senador não comprometido com a direção política do PSOE, tais como a proclamação de que nesta ocasião devem ter em conta o interesse de Espanha e não apenas os seus objetivos políticos e de que preferiria um governo progressista e modernizador, González acaba por tomar posição e influenciar a complexa relação de forças internas no interior do PSOE. Reconhecendo que não há no Congresso de Deputados lugares suficientes para assegurar o referido governo progressista e modernizador, González acaba por defender que PSOE e PP não devem inviabilizar que um ou outro governem, manifestando-se totalmente contra a aproximação ao PODEMOS, a quem apelida de liquidacionista. Não especifica que contrapartidas deveria exigir para não inviabilizar um possível governo PP – CIUDADANOS. Mas esta última possibilidade está ela própria bastante dificultada porque mais um caso de grossa corrupção, com detenções em fila indiana na Comunidade Valenciana, acaba de estourar. A hipótese de um governo minoritário PSOE apoiado por forças parlamentares de esquerda parece inviável pelas conhecidas razões de que em Espanha não há um PCP e nem o PODEMOS é o Bloco de Esquerda. Face à inorganicidade daquele, o Bloco parece um partido estruturado. A minha leitura da entrevista é a de que entre o precipício de novas eleições que acentuariam o declínio, a cedência ao liquidacionismo do PODEMOS e a inviabilidade de um acordo parlamentar para um governo progressista e modernizador, González acaba por recomendar a viabilização o menos comprometida possível de um governo do PP, seja este sozinho ou em companhia do CIUDADANOS. Não há estudos de opinião que esclareçam o que é que o eleitorado em declínio do PSOE pensa deste imbróglio e que exigências concretas deve o PSOE realizar para não impedir o governo PP. Numa situação de encurralamento declarado, não sei se não optaria por novas eleições. Pelo menos elas seriam clarificadoras do real declínio a que o PSOE está submetido. Pragmática e prosaicamente sempre é preferível avaliar corretamente os danos e tentar depois repará-los do que empurrar o problema com a barriga e ser depois surpreendido por uma catástrofe. Não há senadores e passado que valham para resolver um problema destes.

Eu sei que de Espanha nem sempre sopram ventos favoráveis, mas conviria que o PS meditasse no que está a acontecer ao seu parceiro ibérico.

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