(Pressionado pela
grande desorientação que reina no PSOE a propósito do enredo pós 20 de
dezembro, a entrevista de
Felipe González só pode ter uma leitura e essa não é nada favorável a Pedro
Sánchez)
O imbróglio em que a situação política espanhola se
transformou após as eleições de 20 de dezembro e a cacofonia dos
pronunciamentos diários das principais lideranças políticas estáo a produzir
consequências inesperadas. Se em alguma medida os resultados alcançados por
algumas formações políticas proporcionaram alguma descompressão do ambiente de
desconfiança e repúdio instalado em relação aos partidos políticos, as
peripécias que têm rodeado a formação do governo ainda mais têm pressionado
essa desconfiança. A situação está tão bloqueada que se chega ao cúmulo de
antecipar que nem um novo ato eleitoral a curto prazo poderá desatar o pesado
lio em que a Espanha está mergulhada. As reduzidas sondagens disponíveis
sugerem que das formações políticas em disputa apenas, imaginem, o PP não
perderia votos em relação ao último escrutínio. Já tenho aqui sublinhado que a
carga dos trabalhos que pesa no lombo do PSOE representa bem o coração da
decadência dos partidos socialistas e social-democratas europeus. O PSOE está
positivamente encurralado entre o desejar novas eleições que agravariam
provavelmente a sua queda eleitoral, não inviabilizar a governação do PP o que
tenderia a perder provavelmente a sua já pequena representatividade política à
esquerda ou precipitar um acordo com o PODEMOS, tendo que aguentar este no
governo e assim provavelmente provocar uma rebelião interna dos que se recusam
a pactuar com a humilhação que algumas declarações de Pablo Iglésias sobre o
PSOE têm provocado. Isto é muito mais do que a quadratura de um círculo.
Escudando-se na necessidade de se pronunciar para cortar
pela raiz as pretensões de invocação do seu nome, Felipe González saiu da toca
e deu ontem uma entrevista ao El País na qual se pronuncia sobre a posição
recomendada para o PSOE. No meio de afirmações típicas de senador não
comprometido com a direção política do PSOE, tais como a proclamação de que
nesta ocasião devem ter em conta o interesse de Espanha e não apenas os seus
objetivos políticos e de que preferiria um governo progressista e modernizador,
González acaba por tomar posição e influenciar a complexa relação de forças
internas no interior do PSOE. Reconhecendo que não há no
Congresso de Deputados lugares suficientes para assegurar o referido governo
progressista e modernizador, González acaba por defender que PSOE e PP não
devem inviabilizar que um ou outro governem, manifestando-se totalmente contra
a aproximação ao PODEMOS, a quem apelida de liquidacionista. Não especifica que
contrapartidas deveria exigir para não inviabilizar um possível governo PP –
CIUDADANOS. Mas esta última possibilidade está ela própria bastante dificultada
porque mais um caso de grossa corrupção, com detenções em fila indiana na
Comunidade Valenciana, acaba de estourar. A hipótese de um governo minoritário
PSOE apoiado por forças parlamentares de esquerda parece inviável pelas
conhecidas razões de que em Espanha não há um PCP e nem o PODEMOS é o Bloco de
Esquerda. Face à inorganicidade daquele, o Bloco parece um partido estruturado.
A minha leitura da entrevista é a de que entre o precipício de novas eleições
que acentuariam o declínio, a cedência ao liquidacionismo do PODEMOS e a
inviabilidade de um acordo parlamentar para um governo progressista e
modernizador, González acaba por recomendar a viabilização o menos comprometida
possível de um governo do PP, seja este sozinho ou em companhia do CIUDADANOS.
Não há estudos de opinião que esclareçam o que é que o eleitorado em declínio
do PSOE pensa deste imbróglio e que exigências concretas deve o PSOE realizar
para não impedir o governo PP. Numa situação de encurralamento declarado, não
sei se não optaria por novas eleições. Pelo menos elas seriam clarificadoras do
real declínio a que o PSOE está submetido. Pragmática e prosaicamente sempre é
preferível avaliar corretamente os danos e tentar depois repará-los do que
empurrar o problema com a barriga e ser depois surpreendido por uma catástrofe.
Não há senadores e passado que valham para resolver um problema destes.
Eu sei que de Espanha nem sempre sopram ventos
favoráveis, mas conviria que o PS meditasse no que está a acontecer ao seu
parceiro ibérico.
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