sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

BOM CINEMA E MUITO MAIS


Só hoje estreou por terras lusitanas o trabalho de realização em que Adam McKay adapta cinematograficamente o best-seller de Michael Lewis sobre a gigantesca crise financeira de 2008 (“The Big Short – Inside the Doomsday Machine”, por cá pobremente traduzido como “A Queda de Wall Street”). Trata-se de um filme muito conseguido e que seguramente passará à posteridade como um clássico na matéria – como já o eram, sob ângulos diversos, “Inside Job” (no plano documental, a mais completa descrição das falhas regulatórias, intelectuais e éticas que conduziram à crise) ou “O Lobo de Wall Street” (a obra em que Scorsese nos dá conta dos antecedentes mais longínquos do desastre, que situa na década de 90 do século passado, e nos apresenta magistralmente alguns traços genéticos e de caráter que marcam a mentalidade e o comportamento prevalecente nos homens dos mercados). 

“The Big Short” adota um outro posicionamento, algures a meio caminho entre um tratamento sério dos fundamentos do colapso imobiliário e uma perspetiva fresca e cínica, quase em estilo de comédia, na explicação de vários dos conceitos, pressupostos e contornos subjacentes à débacle financeira. Os protagonistas principais são alguns curiosos operadores, mais ou menos excêntricos e periféricos, que tiveram o engenho e/ou a sorte de apostar em investimentos contra a corrente então avassaladoramente dominante. Num ritmo dinâmico, e ricamente preenchido por passagens deliciosas, a narrativa vai-nos dando a conhecer essas figuras – do médico antissocial que lidera uma sociedade de investimentos e investiga exaustivamente o conteúdo dos contratos ao cruzado e hiperativo diretor de um pequeno fundo de investimentos, dos jovens que se envolvem num empreendimento “de garagem” ao desiludido banqueiro reformado – e, com elas, a inimaginável expressão dos fenómenos que se foram sucedendo, bem assim como o seu caráter crescentemente absurdo e fraudulento. De salientar, finalmente, o excelente conjunto de interpretações (com destaque para a de Christian Bale) que ressalta desta brilhante síntese e denúncia de um sistema incapaz de regeneração...

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