(Francisco Assis,
depois de rejeitar a revolta do leitão, e dar tréguas a Costa, não ficou claramente convencido e utiliza o seu
desdém pela candidatura de Sampaio da Nóvoa para dizer ao PS alguma coisa, mas
o quê verdadeiramente?)
Francisco Assis está no seu direito de não gostar de António
Nóvoa e da sua candidatura. Não sei se comungou com a primeira reação primária
no PS, a de Sérgio Sousa Pinto, quando equiparou Nóvoa a um líder latino-americano
como José Mujica. Também não sabemos se alinha com os que se preocupam pelo
facto de Sampaio da Nóvoa vir segundo eles do vazio político, como se o universo
da cidadania estivesse proscrito de rejuvenescer o discurso e a prática políticas
em Portugal. Pelo seu artigo de hoje no Público, ficamos a saber que Assis zurze
na personalidade de Nóvoa por ver nela um arauto do messianismo político em marcha
para a beatitude, como se falar de um tempo novo fosse pecado mortal. Compreende-se
a digressão de Assis pelos tempos do eanismo, para ferir o apoio de Eanes a Nóvoa,
não hesitando em caracterizar o eanismo dos seus primórdios com a “apologia do
ascetismo e o enaltecimento de uma pureza extramundana”, embora no fim recue
para considerar que o contributo de Eanes para a consolidação da democracia em
Portugal é tal que o eanismo dos seus primórdios deve ser perdoado.
O segundo grande argumento de Assis não podia deixar de envolver
a sua “protegida” nestas presidenciais Maria de Belém e para isso invoca o
debate Nóvoa-Belém e a acusação algo despropositada do primeiro (mas quem não tem
numa campanha momentos dos podem considerar-se “ao lado” do que verdadeiramente
importaria focar?) de que a não assinatura de um pedido de verificação de
inconstitucionalidade significaria traição e não defesa da Constituição.
Mas no fundo, bem lá no fundo, o que Assis receia por
antecipação é uma possível segunda volta entre Marcelo e Nóvoa e a formação em
torno de Nóvoa de um apoio do tempo novo que tenderia a produzir um contexto de
reforço das condições que tornaram possível o acordo parlamentar de assegurar
ao governo minoritário do PS algum tempo de estabilidade. Assis não compreendeu
bem o contexto que tornou possível este acordo, que não significa que se mantenha
para todo o sempre, sobretudo se a esquerda, tendo aprendido com a mudança do
contexto, não aprenda a nele governar sem precipitar uma crise orçamental. O caminho
crítico orçamental está mais crítico e começa por estar nessa situação devido
aos esqueletos no armário dos bancos, com o Banif à cabeça e o Novo Banco em
filinha e só nos faltava que a CGD também precisasse. A revisão das necessidades
de financiamento que o IGCP apresentou aos investidores internacionais anuncia
muita turbulência, sobretudo se esse reforço do endividamento não for acompanhado
de um maior ritmo de crescimento do PIB. Significa isto que os tempos políticos
de 2016 estarão longe ser uma passadeira vermelha para a capacidade de negociação
de Costa. Esses é que vão ser o verdadeiro teste do acordo parlamentar e não o
pensamento redondo e comprometido de Assis, haja ou não leitão.
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