quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

NA MORTE DE PAUL BLEY



Obituários sabedores e rigorosos hão de desmultiplicar-se pelo mundo fora a propósito do desaparecimento físico, aos 83 anos, deste genial pianista e compositor. Pessoalmente, prefiro limitar-me a recordar o visionário e “aventureiro musical” que tanto contribuiu para afinar o meu ouvido e aumentar/equilibrar a minha sensibilidade rítmica e melódica (como se escreveu na “All Music”, “levou os estilos e técnicas associados a Oscar Peterson, Wynton Kelly e Bill Evans a novos níveis de experimentação criativa, tornando-se uma força indispensável na música moderna ao combinar os melhores elementos do bop e do early modern jazz com uma extensiva improvisação livre e com dinâmicas processuais frequentemente encontradas na música de câmara do século XX”), alguns magistrais momentos de jazz que isoladamente ou em conjunto nos proporcionou/legou (numa carreira de mais de seis décadas e cerca de cem álbuns, incluindo aquele que já foi votado como o melhor de todos os tempos – “Paul Bley with Gary Peacock”) e aqueles seus especialíssimos piano solos ou em trio que encheram vários dos meus dias mais melancólicos ou contemplativos (como a sua obra-prima inicial “Open, to Love” ou a sua famosíssima prestação no tema “All the Things You Are” do álbum de Sonny Rollins e Coleman Hawkins de 1963).

Meia-dúzia de breves apontamentos finais: (i) Bley era canadiano, embora tenha vivido longos períodos nos Estados Unidos e falecido na Florida; (ii) Bley partilhou relações afetivas sérias com mulheres excecionais e figuras musicais da envergadura de Carla Bley (nascida Karen Borg) e Annette Peacock; (iii) Bley participou no histórico álbum de Ornette Coleman “The Shape of Jazz to Come”; (iv) Bley foi um dos primeiros músicos de jazz a recorrer à electrónica e a sintetizadores; (v) Bley desempenhou um papel importante no lançamento de jovens músicos, com o guitarrista Pat Metheny a constituir-se no caso mais notável; (vi) Bley publicou uma interessante autobiografia, já datada do final do século passado e intitulada “Stopping Time: Paul Bley and the Transformation of Jazz”.

E é já hoje mesmo que vou retomar a audição de composições e interpretações que a imortalidade de Bley nos deixou...

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