sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

DE ESPANHA, NEM PORTUGAL NEM ALEMANHA!




(Ou como a situação política em Espanha pós eleições de 20 de dezembro irá provavelmente conduzir a novas eleições)

Estamos a caminhar para um mês após as eleições de 20 de dezembro em Espanha e não se vislumbra uma saída política consistente para os resultados saídos das urnas. Há muito mais tempo, a Catalunha está também sem investidura do poder regional, já que os independentistas não se entendem e emerge com força acrescida a repetição do ato eleitoral regional. E não será propriamente um problema de má sorte. Haverá razões objetivas que o justifiquem.

A nível nacional, a procura de uma saída política para as eleições de antes do Natal adquire uma forte centralidade na determinação dos efeitos pós resgate da banca espanhola que acabou por ser uma via para as políticas de austeridade fortemente penalizadoras das condições de vida dos espanhóis. Como previ logo no momento de publicação dos primeiros resultados de 20 de dezembro, duas soluções não muito convincentes do ponto de vista da sua exequibilidade estão em cima da mesa. Uma solução à alemã, para a qual o PP procura desesperadamente atrair o PSOE, envolvendo o CIUDADANOS, embora sem que se perceba o que o PP estará disposto a ceder para tornar possível essa coligação ou simples acordo político. Conhecido que foi o mergulho de esferas do PP na corrupção, não é visível o que o partido de Rajoy estará disposto a oferecer nesta matéria e talvez na questão territorial para potenciar tal acordo. A inovação portuguesa do acordo parlamentar à esquerda é a outra solução possível (uma solução à portuguesa), envolvendo o PSOE, as inúmeras fações do PODEMOS e algumas formações políticas regionais. Muito sinceramente não creio que tal seja possível. Primeiro, porque o fracionamento potencial do PSOE perante uma aproximação com o PODEMOS seria incomparavelmente mais contundente do que o almoço da Mealhada animado pelos seguristas do PS português. Segundo, porque não se vislumbra bem o que o PSOE teria para dar às formações regionalistas, sobretudo no contexto de degradação das relações entre Regiões e Madrid que se observou nos últimos e das peripécias do nacionalismo catalão.

Face a esta projeção, o que de mais provável antevejo são novas eleições nacionais, provavelmente acompanhadas de novas eleições regionais na Catalunha. E o que é mais dramático é que ninguém antecipa que tal regresso aos votos significará clarificação política.

O que significa que a perceção das consequências políticas dos programas de ajustamento de má memória ainda está por determinar na plenitude do que trouxeram à governabilidade. Entretanto, investigação relevante sobre o processo de ajustamento em Espanha começa a ser publicada. David Rosnick e Mark Weisbrot publicaram em fins de 2015 no CEPR – Center for Economic and Policy Research novas evidências empíricas sobre a transição espanhola e chegaram a algumas conclusões que devem pairar sobre a procura de soluções para o pós-eleições. Em primeiro lugar, concluíram que mesmo que a economia espanhola atingisse o seu produto potencial máximo a taxa de desemprego rondaria os 16,5%, uma enormidade de desemprego estrutural. Em segundo lugar, ao contrário do que o desesperado Rajoy possa querer fazer passar, demonstraram que a recuperação que atravessa a economia espanhola não é o resultado do regresso aos mercados e do regresso da confiança de consumidores e investidores. A explicação mais provável que encontraram foi a desaceleração e progressiva eliminação da consolidação fiscal (em termos pragmáticos, menos austeridade, entendamo-nos), mesmo que combinado com os fatores externos favoráveis resultantes da gestão monetária do BCE. É o que resulta do comportamento do défice estrutural que abre este post.

A encruzilhada do PSOE é dramática. Atirar-se para uma coligação com o PP e com o CIUDADANOS, com este último a ser mais incisivo nas questões da corrupção, coloca-o perante um risco de irrelevância. Tentar tecer um acordo à portuguesa, sem a presença de um PCP em Espanha e com PODEMOS e regionalismos a potenciar fortes dores de cabeça, também não parece muito aliciante. Por isso, o empurrar a realidade com a barriga de umas novas eleições talvez dê a Pedro Sanchéz algum fôlego, mesmo que os riscos dessas novas eleições também não serem clarificadoras.

Para memória futura dos efeitos políticos dos processos de resgate.

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