(Numa noite
eleitoral com muito de esperado compreende-se o discurso final de António Nóvoa
mas a votação alcançada não
pode deixar de ter consequências para o Partido Socialista)
Não deu segunda volta mas o António Nóvoa tem razões para
se sentir retribuído com o resultado alcançado. Enfrentando uma comunicação
social hostil para lá dos limites da decência, cuja reação é determinada
sobretudo pela incomodidade que personalidades que brotam da sociedade civil sempre
provocam a um jornalismo habituado às intrigas palacianas e aos rodriguinhos
dos responsáveis pela comunicação de partidos e empresas, Sampaio da Nóvoa conseguiu
furar esse muro da indiferença e do escárnio e maldizer e afirmar o seu
pensamento. Não foi a sua votação de 22% e algo mais que foi responsável pela
derrota do PS na sua abordagem presidencial. Foi antes o patético afundamento
da candidatura de Maria de Belém que significou seguramente perda de votos na área
socialista e terá engrossado a votação de Marcelo ou até a de Marisa Matias. A
intervenção pública e de palanque de Vera Jardim talvez tenha sido o momento
Zen do mais patético pós-eleitoral que há muito não se via na cena política
nacional. O universo de apoiantes da cândida Belém no interior do PS mostrou
uma vez mais que não entende o eleitorado a que se dirige. Continua a viver do
passado político, do seu contributo para a instauração da democracia em Portugal,
de nome e não de pensamento. O PS para resistir à crise da social-democracia
europeia precisa muito mais e nesse muito mais está alguma da energia que se
manifestou na candidatura de Sampaio da Nóvoa. Daí a minha interrogação de o
que fazer com estes 22% e picos.
Até porque a votação do Bloco de Esquerda e de Marisa
Matias (que continuo a considerar uma força da natureza) deve colocar o PS em
atenta vigilância. A votação mostra que o BE é capaz de fixar eleitorado e o PS
não está livre de ver fugir algum do seu eleitorado mais jovem para essa orientação.
Os tempos mais próximos vão precisar de um Marcelo fiel
ao ideário que vincou no seu discurso de Estado na Faculdade de Direito. Espero
sinceramente que 52% do eleitorado que disse presente não seja enganado. Tempos
difíceis e turbulentos se avizinham. Seria bom que de Belém viesse moderação e
influência coesiva.
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