(O que a inspirada
jornalista do Financial Times nos propõe é que saibamos antecipar trends a
partir de meros sinais, e
não posso estar mais de acordo com esta solução para combater o síndroma da
informação perfeita que conduz a respostas fora de tempo)
Já se percebeu que a prosa de Gilian Tett é uma das
minhas favoritas no jornalismo económico. A Gillian escreve sobre coisas que os
outros não escrevem, tem uma finura de pensamento que está a milhas da
vulgaridade do jornalismo económico de hoje e as suas crónicas levam-nos a
seguir sinais para os quais não estávamos sintonizados.
A crónica de ontem (21 de janeiro) no Financial Times on line trouxe-me novas perspetivas
sobre a instabilidade hoje reinante nas economias emergentes e sobre as suas
consequências na turbulência anunciada para o sistema financeiro global. A
abordagem obedece aos padrões a que Gillian nos habituou. Parte de uma
evidência aparentemente minúscula e isolada para refletir sobre uma possível
tendência e assim antecipar algo de mais pesado. O sinal de que parte é a
amortização antecipada em cerca de um ano de títulos emitidos em dólares por
uma sociedade chinesa, a China SCE Property Holdings, da cidade costeira de
Xiamen num montante global de 350 milhões de dólares. O que é esta minúscula
operação poderá traduzir?
A utilização dos mercados em dólares para emitir dívida
ou contrair empréstimos por parte dos grupos chineses atingiu proporções bem
superiores às que se observavam em 2008. Segundo Gillian Tett, o BIS estima em
cerca de 4.000 milhões de dólares o valor dessa dívida, largamente apreciada
pelo facto da moeda chinesa se ter valorizado progressivamente face ao dólar,
na sequência da política desenvolvida pelo FEE-USA. No entanto, as mais
recentes desvalorizações do renmimbi, antecipam saídas de capital de cerca de
500 mil milhões de dólares nos próximos tempos. A antecipação de amortizações e
vencimentos entraria nessa linha de tendência e a jornalista avança com uma
estimativa do Institute of International
Finance segundo a qual no último ano cerca de 700 mil milhões de dólares terão
saído da China.
E lá regressamos a uma evidência que tarda em ser
generalizadamente reconhecida. A globalização financeira é seguramente uma das
grandes fontes da turbulência mundial, sobretudo devido à magnitude do que
circula abruptamente. E não há sinais de que se trate de matéria com regulação
eficaz. Não se trata apenas de reações ao comportamento da relação entre as
moedas americana e chinesa. Outros fatores, designadamente a volatilidade dos
preços de petróleo e a instabilidade política acrescentam fogo a algo que já
está a arder.
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