sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

ESCUTEM A GILLIAN!




(O que a inspirada jornalista do Financial Times nos propõe é que saibamos antecipar trends a partir de meros sinais, e não posso estar mais de acordo com esta solução para combater o síndroma da informação perfeita que conduz a respostas fora de tempo)

Já se percebeu que a prosa de Gilian Tett é uma das minhas favoritas no jornalismo económico. A Gillian escreve sobre coisas que os outros não escrevem, tem uma finura de pensamento que está a milhas da vulgaridade do jornalismo económico de hoje e as suas crónicas levam-nos a seguir sinais para os quais não estávamos sintonizados.

A crónica de ontem (21 de janeiro) no Financial Times on line trouxe-me novas perspetivas sobre a instabilidade hoje reinante nas economias emergentes e sobre as suas consequências na turbulência anunciada para o sistema financeiro global. A abordagem obedece aos padrões a que Gillian nos habituou. Parte de uma evidência aparentemente minúscula e isolada para refletir sobre uma possível tendência e assim antecipar algo de mais pesado. O sinal de que parte é a amortização antecipada em cerca de um ano de títulos emitidos em dólares por uma sociedade chinesa, a China SCE Property Holdings, da cidade costeira de Xiamen num montante global de 350 milhões de dólares. O que é esta minúscula operação poderá traduzir?

A utilização dos mercados em dólares para emitir dívida ou contrair empréstimos por parte dos grupos chineses atingiu proporções bem superiores às que se observavam em 2008. Segundo Gillian Tett, o BIS estima em cerca de 4.000 milhões de dólares o valor dessa dívida, largamente apreciada pelo facto da moeda chinesa se ter valorizado progressivamente face ao dólar, na sequência da política desenvolvida pelo FEE-USA. No entanto, as mais recentes desvalorizações do renmimbi, antecipam saídas de capital de cerca de 500 mil milhões de dólares nos próximos tempos. A antecipação de amortizações e vencimentos entraria nessa linha de tendência e a jornalista avança com uma estimativa do Institute of International Finance segundo a qual no último ano cerca de 700 mil milhões de dólares terão saído da China.

E lá regressamos a uma evidência que tarda em ser generalizadamente reconhecida. A globalização financeira é seguramente uma das grandes fontes da turbulência mundial, sobretudo devido à magnitude do que circula abruptamente. E não há sinais de que se trate de matéria com regulação eficaz. Não se trata apenas de reações ao comportamento da relação entre as moedas americana e chinesa. Outros fatores, designadamente a volatilidade dos preços de petróleo e a instabilidade política acrescentam fogo a algo que já está a arder.

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