quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

WORLD EMPLOYMENT AND SOCIAL OUTLOOK




(As tendências esperadas para os mercados de trabalho em 2016 não são animadoras, o mundo está instável e o mundo do trabalho continua a ser a projeção natural das maleitas desta época para mal dos trabalhadores e respetivas famílias)

O contributo da Organização Internacional do Trabalho, OIT (International Labour Organization, ILO) tem vindo a adquirir uma progressiva proeminência enquanto instituição que vela pela dignificação de um trabalho decente e nos proporciona uma visão comparativa do que se vai passando pelo mundo em termos de mercados de trabalho. Nas duas oportunidades que tive de trabalhar com a organização (graças ao contributo inestimável da minha colega Pilar González da FEP), apercebi-me do ambiente cosmopolita que grassa por aquela instituição e também da necessidade que toda a organização é obrigada a promover para garantir equilíbrios entre o vasto conjunto de países que o povoam. É por isso com algum orgulho que saúdo os dois artigos em obras coletivas (uma já publicada e outra aguardando essa publicação) que o trabalho conjunto, primeiro com a Pilar e depois alargado ao Luís Delfim Santos e ao Hugo Figueiredo, me proporcionou.

Nos tempos que correm a estimação de condições futuras corre frequentemente o risco de se transformar em exercício futurológico de Professores Bambos, mas o profissionalismo da OIT assegura algum conforto. O World Employment Social Outlook – Trends 2016 (ver link aqui) constitui uma excelente oportunidade para ganharmos uma visão de conjunto sobre a prospetiva dos mercados de trabalho a nível mundial. Por um lado, o documento e a página WEB que o suportam estão cada vez mais apelativos. Assim, por exemplo, o gráfico que abre este post resulta da utilização interativa da página de suporte (ver link aqui), através do qual é possível comparar a evolução prospetiva da taxa de desemprego em Portugal em termos comparativos com o mundo, a União Europeia, as economias desenvolvidas e subdesenvolvidas e as economias emergentes. Os resultados dessa comparação não são animadores. O instrumento de análise é apelativo, o que não é nada apelativa é a conclusão de que a situação portuguesa, embora tenda a melhorar, continua acima e mais gravosa do que todas aquelas médias de taxa de desemprego para os blocos económicos atrás considerados. É importante recordar este facto penoso. E não serve de grande alívio quando acrescentamos ao gráfico prospetivo a Grécia para pressentirmos conforto na pior situação apontada para o mercado de trabalho na Grécia.


O que importa anotar é que entramos em 2016 com 197 milhões e 100 mil desempregados no mundo, estimando a OIT que existem hoje mais 27 milhões de desempregados do que existiam antes do mundo experimentar a convulsão de 2007-2008. Estes números alertam-nos, simultaneamente, para a penosidade do abalo que o mundo experimentou e para a treta da recuperação entretanto ensaiada e tão apregoada por alguns. E a mensagem passa a tragédia quando o relatório da OIT antecipa que 1,5 mil milhões de empregos são vulneráveis, qualquer coisa como 46% do emprego a nível mundial, percentagem que chega a atingir 70% em algumas economias emergentes e mais pobres e que apresenta uma tendência para aumentar em 2016. Dinamicamente, antecipa-se que o desemprego aumentará nos dois anos mais próximos em cerca de 3,4 milhões de indivíduos, com o grupo das economias emergentes a absorver o maior quinhão dessa penosidade. E lá chegamos inevitavelmente à conclusão de que as classes médias verão a sua expansão interrompida, não pela sua queda nas principais economias avançadas, mas também nas economias emergentes. Como é sabido, os países emergentes representaram nos últimos tempos uma grande oportunidade para o crescimento de uma classe média mundial, mas até essa luz ao fundo do túnel parece ter desaparecido a curto prazo.

O relatório avança também com uma explicação própria para os ritmos mais lentos de crescimento económico observados nos tempos mais recentes. A OIT propõe quatro fatores explicativos, bastante em linha com o que temos apresentado neste blogue: declínio a longo prazo do investimento em capital (ver teses da estagnação secular); desaceleração do crescimento da população em idade ativa; repartição desigual dos frutos do crescimento económico; débil crescimento da produtividade total dos fatores.

A informação que este relatório nos disponibiliza está em linha de forte conformidade com o que se vai antecipando a partir de outras variáveis. O abalo foi mais profundo do que o esperado. As terapias redentoras não o foram, transformaram-se em parte do problema e não da solução necessária. A recuperação é suficientemente agónica para prever o pior se acaso ocorrer alguma perturbação imprevista a curto prazo (a economia mundial parece pôr-se a jeito para tal). Draghi vai confessando regularmente a sua impotência para com os instrumentos existentes o BCE resolver o problema europeu. Pior do que isso, não se antecipa do ponto de vista político e na perspetiva da política macroeconómica mundial alterações que permitam esperar o melhor. Chegamos ao ridículo de alguns defensores da recente subida das taxas de referência do FED USA justificarem a decisão com a possibilidade de, subindo taxas, ser depois possível responder a qualquer turbulência descendo-as de novo. Summers tem gozado com a situação. Tudo se passa como se aceitássemos assumir o risco da doença para poder aplicar uma dada terapêutica e neste caso sem sermos pagos para isso.

O mundo não se recomenda e necessita por isso de liderança política e pensamento económico que o salve de uma implosão multipolar. O pensamento económico banalizou-se, deixou-se instrumentalizar e barbas brancas serão necessárias para readquirir a força de outros tempos. Nas lideranças políticas o tempo está mais para incendiários do que para verdadeiros estrategas com sentido de decência e de futuro.

O mundo não está para velhos.

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