(As tendências
esperadas para os mercados de trabalho em 2016 não são animadoras, o mundo está instável e
o mundo do trabalho continua a ser a projeção natural das maleitas desta época
para mal dos trabalhadores e respetivas famílias)
O contributo da Organização Internacional do Trabalho,
OIT (International Labour Organization,
ILO) tem vindo a adquirir uma progressiva proeminência enquanto instituição
que vela pela dignificação de um trabalho decente e nos proporciona uma visão
comparativa do que se vai passando pelo mundo em termos de mercados de
trabalho. Nas duas oportunidades que tive de trabalhar com a organização
(graças ao contributo inestimável da minha colega Pilar González da FEP),
apercebi-me do ambiente cosmopolita que grassa por aquela instituição e também
da necessidade que toda a organização é obrigada a promover para garantir
equilíbrios entre o vasto conjunto de países que o povoam. É por isso com algum
orgulho que saúdo os dois artigos em obras coletivas (uma já publicada e outra
aguardando essa publicação) que o trabalho conjunto, primeiro com a Pilar e
depois alargado ao Luís Delfim Santos e ao Hugo Figueiredo, me proporcionou.
Nos tempos que correm a estimação de condições futuras
corre frequentemente o risco de se transformar em exercício futurológico de
Professores Bambos, mas o profissionalismo da OIT assegura algum conforto. O World Employment Social Outlook – Trends 2016 (ver link aqui) constitui uma excelente oportunidade para ganharmos uma
visão de conjunto sobre a prospetiva dos mercados de trabalho a nível mundial.
Por um lado, o documento e a página WEB que o suportam estão cada vez mais
apelativos. Assim, por exemplo, o gráfico que abre este post resulta da
utilização interativa da página de suporte (ver link aqui), através do qual é
possível comparar a evolução prospetiva da taxa de desemprego em Portugal em
termos comparativos com o mundo, a União Europeia, as economias desenvolvidas e
subdesenvolvidas e as economias emergentes. Os resultados dessa comparação não
são animadores. O instrumento de análise é apelativo, o que não é nada
apelativa é a conclusão de que a situação portuguesa, embora tenda a melhorar,
continua acima e mais gravosa do que todas aquelas médias de taxa de desemprego
para os blocos económicos atrás considerados. É importante recordar este facto
penoso. E não serve de grande alívio quando acrescentamos ao gráfico prospetivo
a Grécia para pressentirmos conforto na pior situação apontada para o mercado
de trabalho na Grécia.
O que importa anotar é que entramos em 2016 com 197
milhões e 100 mil desempregados no mundo, estimando a OIT que existem hoje mais
27 milhões de desempregados do que existiam antes do mundo experimentar a
convulsão de 2007-2008. Estes números alertam-nos, simultaneamente, para a
penosidade do abalo que o mundo experimentou e para a treta da recuperação
entretanto ensaiada e tão apregoada por alguns. E a mensagem passa a tragédia
quando o relatório da OIT antecipa que 1,5 mil milhões de empregos são
vulneráveis, qualquer coisa como 46% do emprego a nível mundial, percentagem
que chega a atingir 70% em algumas economias emergentes e mais pobres e que
apresenta uma tendência para aumentar em 2016. Dinamicamente, antecipa-se que o
desemprego aumentará nos dois anos mais próximos em cerca de 3,4 milhões de
indivíduos, com o grupo das economias emergentes a absorver o maior quinhão
dessa penosidade. E lá chegamos inevitavelmente à conclusão de que as classes
médias verão a sua expansão interrompida, não pela sua queda nas principais
economias avançadas, mas também nas economias emergentes. Como é sabido, os
países emergentes representaram nos últimos tempos uma grande oportunidade para
o crescimento de uma classe média mundial, mas até essa luz ao fundo do túnel
parece ter desaparecido a curto prazo.
O relatório avança também com uma explicação própria para
os ritmos mais lentos de crescimento económico observados nos tempos mais
recentes. A OIT propõe quatro fatores explicativos, bastante em linha com o que
temos apresentado neste blogue: declínio a longo prazo do investimento em
capital (ver teses da estagnação secular); desaceleração do crescimento da
população em idade ativa; repartição desigual dos frutos do crescimento
económico; débil crescimento da produtividade total dos fatores.
A informação que este relatório nos disponibiliza está em
linha de forte conformidade com o que se vai antecipando a partir de outras
variáveis. O abalo foi mais profundo do que o esperado. As terapias redentoras
não o foram, transformaram-se em parte do problema e não da solução necessária.
A recuperação é suficientemente agónica para prever o pior se acaso ocorrer
alguma perturbação imprevista a curto prazo (a economia mundial parece pôr-se a
jeito para tal). Draghi vai confessando regularmente a sua impotência para com
os instrumentos existentes o BCE resolver o problema europeu. Pior do que isso,
não se antecipa do ponto de vista político e na perspetiva da política
macroeconómica mundial alterações que permitam esperar o melhor. Chegamos ao
ridículo de alguns defensores da recente subida das taxas de referência do FED
USA justificarem a decisão com a possibilidade de, subindo taxas, ser depois
possível responder a qualquer turbulência descendo-as de novo. Summers tem gozado
com a situação. Tudo se passa como se aceitássemos assumir o risco da doença
para poder aplicar uma dada terapêutica e neste caso sem sermos pagos para
isso.
O mundo não se recomenda e necessita por isso de
liderança política e pensamento económico que o salve de uma implosão
multipolar. O pensamento económico banalizou-se, deixou-se instrumentalizar e
barbas brancas serão necessárias para readquirir a força de outros tempos. Nas
lideranças políticas o tempo está mais para incendiários do que para
verdadeiros estrategas com sentido de decência e de futuro.
O mundo não está para velhos.
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