Até aqui, as presidenciais à direita têm sido uma espécie
de não me comprometas. Paulo Morais deu compreensivelmente o peito às balas,
pois quanto mais cedo se projetar mais tempo terá para bater nas suas denúncias
preferidas, as quais fica-se sempre sem saber se são consistentes ou
simplesmente arrufos judicialistas. Marcelo, Rio e Santana Lopes evitam
comprometer-se numa decisão prematura e continua pouco claro o tipo de imposição
que poderão fazer a Passos e Portas, agora comprometidos em apoiar um candidato
comum.
Estranhamente, Durão Barroso parece estar fora do
baralho, mas segundo as minhas intuições os jovens turcos ideólogos do governo
de Passos e Portas não morrem de amores por nenhum dos três mosqueteiros que a
direita tem agitado. Marcelo é demasiado imprevisível e social-democrata para
corja tão liberal, Rio é do Norte e considerado por tal gente pouco dado aos
seus excessos e Santana tem atrás de si uma governação ruinosa. Por isso,
estranhei que o nome de Barroso fosse tão rapidamente excluído das cogitações
do bando dos piu-piu Maçães e companhia. Afinal, não foi Durão o grande aliado
dos que quiseram alavancar a partir da Troika um programa de intervenção de
desmantelamento das reminiscências socialistas da sociedade portuguesa? Afinal
não é Durão a personagem que na Comissão Europeia compaginou os interesses de
uma Europa que se esgota nos desígnios do mercado único, numa espécie de trajetória
da inevitabilidade, que nem seria de esquerda nem de direita, poupando aos
eleitores essa eterna chatice de decidir os rumos políticos dos acontecimentos?
Por todas estas razões, achei que algo ia mal neste
aparente silêncio dos seguidores de Barroso. Hoje, no Observador, João Marques
de Almeida expõe finalmente a argumentação do que penso ser a tendência latente
de uma eventual recuperação da ideia da candidatura de Barroso. Referindo-se a
Nóvoa e a Marcelo (não deixa de ser sintomático o confronto), JMA é explícito: “Nenhum dos dois tem as qualidades para ser o Presidente
que Portugal precisa nos próximos cinco anos. O país necessita acima de tudo de
um político disciplinado e que saiba resistir aqueles apelos e sentimentos
populares que acabam por ser prejudiciais aos portugueses”.
E depois de produzir algumas alarvidades como considerar
que Nóvoa pode ser o SYRIZA na Presidência da República, o cronista esgota-se
na defesa da experiência política de Barroso (de submissão?) como o melhor antídoto
para o populismo político que segundo a sua opinião o país não necessita, antes
pelo contrário.
Se a minha intuição está certa que JMA representa bem a
ideologia que marca a geração de jovens turcos que trabalhou a ascensão de
Passos, então o que ele quer dizer é que a Presidência da República precisa de
alguém distante dos problemas dos Portugueses em geral, para proporcionar a
tapeçaria vermelha aos que quiseram com o ajustamento da Troika realizar a
grande transformação contra os resquícios socialistas e social-democratas da
sociedade portuguesa. Por isso, vou reter esta crónica de JMA para memória futura.
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