Sim, podem dizer-me que o Chelsea é um clube elitista,
que a zona de Londres em que está instalado não engana, que o seu patrão é um
supermilionário russo, que lhe falta aquela identidade popular e operária que
tantos outros clubes ingleses ainda transportam consigo. É tudo isso, mas é
também nele que a competência de Mourinho mais se afirma, agora que acaba de
ganhar, com larga antecipação de tempo, e com uma abada das antigas aos seus
principais concorrentes, não menos milionários nas contratações, a liga inglesa.
E o assunto interessa-me não apenas porque consigo passar
horas sem conta em frente de um televisor, mas porque me fascina o mundo da
afirmação cultural e competente de um português qualificado na difícil sociedade
britânica, talvez em condições mais difíceis e de menor proteção e rede que o êxito
de um Horta Osório na banca. Arrogante que baste, agressivo, espontaneamente
brigão, por vezes insolente, mas acima de tudo uma competência de quem conhece
melhor do que ninguém o negócio em que trabalha, o José Mourinho é o que o Manuel
Sérgio designava por treinador global, treinador de jogadores, de adeptos, de
claques, de comunicação.
Ser campeão em Inglaterra e sê-lo aguentando sempre a
pressão de uma sociedade impiedosa para os derrotados não nativos, é uma marca
e uma competência que deveríamos transformar em estudo de caso de formação a
todos os níveis e em todas as profissões. “Boring”
diziam e interpelavam os jornalistas relativamente ao tipo de jogo do Chelsea,
ao que Mourinho retorquia que “boring”
era não ganhar nada durante 10 anos (numa alusão ao seu adversário de estimação
Wenger) e que o seu objetivo era sempre saber mais de futebol do que todos os
seus críticos. Na minha modesta condição de observador de bancada, Mourinho é essencialmente
um gestor de competências coletivas, alguém que é competente na gestão de uma
organização, onde há lugar para os egos individuais, para as competências da
jovem médica e terapeuta do Chelsea, para a sabedoria profunda de Rui Faria na
metodologia do esforço e até um recurso como Silvino encontra nessa competência
coletiva um papel a desempenhar.
Entretanto, com a dificuldade da metodologia de Van Gaal
se impor no ManUnited, Mourinho enfrenta a dificuldade de não ter na liga
inglesa ninguém para um confronto capaz em termos de gestão do futebol e isso
para a sua maneira de estar nas coisas não é muito estimulante e daí a
Champions ser o seu verdadeiro desafio e não a Liga.
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