domingo, 3 de maio de 2015

BORING? NO, JUST PURE COMPETENCE



Sim, podem dizer-me que o Chelsea é um clube elitista, que a zona de Londres em que está instalado não engana, que o seu patrão é um supermilionário russo, que lhe falta aquela identidade popular e operária que tantos outros clubes ingleses ainda transportam consigo. É tudo isso, mas é também nele que a competência de Mourinho mais se afirma, agora que acaba de ganhar, com larga antecipação de tempo, e com uma abada das antigas aos seus principais concorrentes, não menos milionários nas contratações, a liga inglesa.

E o assunto interessa-me não apenas porque consigo passar horas sem conta em frente de um televisor, mas porque me fascina o mundo da afirmação cultural e competente de um português qualificado na difícil sociedade britânica, talvez em condições mais difíceis e de menor proteção e rede que o êxito de um Horta Osório na banca. Arrogante que baste, agressivo, espontaneamente brigão, por vezes insolente, mas acima de tudo uma competência de quem conhece melhor do que ninguém o negócio em que trabalha, o José Mourinho é o que o Manuel Sérgio designava por treinador global, treinador de jogadores, de adeptos, de claques, de comunicação.

Ser campeão em Inglaterra e sê-lo aguentando sempre a pressão de uma sociedade impiedosa para os derrotados não nativos, é uma marca e uma competência que deveríamos transformar em estudo de caso de formação a todos os níveis e em todas as profissões. “Boring” diziam e interpelavam os jornalistas relativamente ao tipo de jogo do Chelsea, ao que Mourinho retorquia que “boring” era não ganhar nada durante 10 anos (numa alusão ao seu adversário de estimação Wenger) e que o seu objetivo era sempre saber mais de futebol do que todos os seus críticos. Na minha modesta condição de observador de bancada, Mourinho é essencialmente um gestor de competências coletivas, alguém que é competente na gestão de uma organização, onde há lugar para os egos individuais, para as competências da jovem médica e terapeuta do Chelsea, para a sabedoria profunda de Rui Faria na metodologia do esforço e até um recurso como Silvino encontra nessa competência coletiva um papel a desempenhar.

Entretanto, com a dificuldade da metodologia de Van Gaal se impor no ManUnited, Mourinho enfrenta a dificuldade de não ter na liga inglesa ninguém para um confronto capaz em termos de gestão do futebol e isso para a sua maneira de estar nas coisas não é muito estimulante e daí a Champions ser o seu verdadeiro desafio e não a Liga.

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