quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A DEMOGRAFIA E O PAÍS




(Primeiras leituras para apresentação do livro de Eduardo Anselmo Castro, José Manuel Martins e Carlos Jorge Silva no dia 8 de setembro de 2015, no Porto)

Por convite de um dos autores, Eduardo Anselmo Castro da Universidade de Aveiro, estarei no dia 8 a apresentar o livro A Demografia e o País – Previsões Cristalinas sem Bola de Cristal, o que muito me honra.

O Demografia e o País não é um estudo demográfico tout court. Vários aspetos me agradam nesta obra, que a colocam num lugar pioneiro no tratamento das questões demográficas em Portugal.

Em primeiro lugar, porque a questão demográfica do território português é tratada contextualizando-a no quadro das grandes dinâmicas mundiais e sobretudo no âmbito da clivagem entre os cenários de um mundo potencialmente vazio (as economias maduras) e um mundo potencialmente explosivo (as economias pobres e em desenvolvimento). Esta contextualização é relevante para disseminar no país uma cultura demográfica mais consistente do que a que atravessa os jornais.

Em segundo lugar, porque a obra fornece ao leitor e à capacidade reflexiva da sociedade portuguesa uma visão heterodoxa de combinação da análise demográfica e da análise económica, mostrando que a cenarização demográfica quando é realizada sem ter por suporte uma perspetiva de como as variáveis económicas vão evoluir conduz regra geral a valores puramente abstratos e que correm o risco de conduzir a opções de política desproporcionadas ou mesmo erradas.

Em terceiro lugar, a obra traz elementos relevantes para desmistificar algumas interpretações da realidade nacional que são construídas com base na invocação errada da questão demográfica nacional. O melhor exemplo dessa desmistificação é o modo leviano e trapaceiro como se usa a questão demográfica para discutir a insustentabilidade da segurança social, simplesmente porque se ignora a questão da produtividade e da sua variação. O que mostra bem que a combinação das questões demográfica e económica é sugestiva e é bem mais inspiradora para uma abordagem profunda aos problemas nacionais.
Estes três aspetos são suficientemente expressivos para marcar a originalidade da obra e a trajetória que define de exploração futura das relações entre a demografia e a economia. E é suficientemente expressiva essa orientação para mostrar como é confrangedora a criação de um grupo de trabalho para estudar o relançamento da taxa de fertilidade sem cuidar do quadro económico de suporte.

Estou para ver que tipo de leitura tem sobre a obra o Joaquim Azevedo que dirigiu esse grupo de trabalho.

Os aspetos complementares da obra, designadamente do seu contributo para compreender o problema do interior, fica para um post mais próximo da sessão de apresentação do livro.

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