(Primeiras
leituras para apresentação do livro de Eduardo Anselmo Castro, José Manuel
Martins e Carlos Jorge Silva no dia 8 de setembro de 2015, no Porto)
Por convite de um dos autores, Eduardo Anselmo Castro da Universidade de
Aveiro, estarei no dia 8 a apresentar o livro A
Demografia e o País – Previsões Cristalinas sem Bola de Cristal, o que muito me honra.
O Demografia e o País não é um estudo demográfico tout court. Vários aspetos me agradam nesta obra, que a colocam num
lugar pioneiro no tratamento das questões demográficas em Portugal.
Em primeiro lugar, porque a questão demográfica do território português é
tratada contextualizando-a no quadro das grandes dinâmicas mundiais e sobretudo
no âmbito da clivagem entre os cenários de um mundo potencialmente vazio (as
economias maduras) e um mundo potencialmente explosivo (as economias pobres e
em desenvolvimento). Esta contextualização é relevante para disseminar no país
uma cultura demográfica mais consistente do que a que atravessa os jornais.
Em segundo lugar, porque a obra fornece ao leitor e à capacidade reflexiva
da sociedade portuguesa uma visão heterodoxa de combinação da análise demográfica
e da análise económica, mostrando que a cenarização demográfica quando é
realizada sem ter por suporte uma perspetiva de como as variáveis económicas vão
evoluir conduz regra geral a valores puramente abstratos e que correm o risco
de conduzir a opções de política desproporcionadas ou mesmo erradas.
Em terceiro lugar, a obra traz elementos relevantes para desmistificar
algumas interpretações da realidade nacional que são construídas com base na
invocação errada da questão demográfica nacional. O melhor exemplo dessa
desmistificação é o modo leviano e trapaceiro como se usa a questão demográfica
para discutir a insustentabilidade da segurança social, simplesmente porque se
ignora a questão da produtividade e da sua variação. O que mostra bem que a
combinação das questões demográfica e económica é sugestiva e é bem mais
inspiradora para uma abordagem profunda aos problemas nacionais.
Estes três aspetos são suficientemente expressivos para marcar a
originalidade da obra e a trajetória que define de exploração futura das relações
entre a demografia e a economia. E é suficientemente expressiva essa orientação
para mostrar como é confrangedora a criação de um grupo de trabalho para
estudar o relançamento da taxa de fertilidade sem cuidar do quadro económico de
suporte.
Estou para ver que tipo de leitura tem sobre a obra o Joaquim Azevedo que
dirigiu esse grupo de trabalho.
Os aspetos complementares da obra, designadamente do seu contributo para
compreender o problema do interior, fica para um post mais próximo da sessão de
apresentação do livro.
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