sexta-feira, 18 de setembro de 2015

DA CRISE COMO ACIONISTA DE BANCOS

(adaptado de Farrugo, http://www.eleconomista.es)

O “Boletim Económico” do BCE (nº 6 de 2015), ontem divulgado, dá conta de uma informação relevante e oportuna, em termos absolutos e relativos, sobre o “impacto orçamental do apoio ao setor financeiro”. O principal dado global é o que corresponde à avaliação da assistência bruta verificada no conjunto da Zona Euro (ZE) ao longo do período de crise (2008/14), qualquer coisa como 8% do PIB da Região (4,7% se deduzidos os 3,3% que foram sendo recuperados).

No que nos diz respeito, a indicação registada é a de 11,3% do PIB (algo como 19,5 mil milhões de euros) governamentalmente aplicados, digamo-lo em termos grosseiros, a salvar e ajudar bancos. No que apenas fomos ultrapassados (ver primeiro quadro abaixo) pelos campeões irlandeses (que estiveram realmente a braços com uma verdadeira crise bancária) e pela Grécia, Chipre e Eslovénia.

De notar ainda que um pouco mais de um quinto do aumento da dívida pública ocorrido na ZE desde 2008 terá ficado a dever-se a tais apoios aos respetivos sistemas financeiros nacionais (mas 85,7% no caso da Irlanda, 73,7% na Grécia, 62,2% em Espanha e 61,7% em Portugal).

Mas a situação portuguesa resulta ainda pior quando tida em conta a capacidade revelada para reaver tais injeções de dinheiro público em favor do setor financeiro. De facto, a taxa de recuperação de ativos (patente no segundo gráfico) apresenta-se especialmente baixa (na realidade, praticamente nula) no caso de Portugal, matéria em que estamos mal acompanhados por irlandeses e cipriotas (com a Holanda a ser titular de um excelente e melhor desempenho e a média da ZE a situar-se nos 40%).

No fundo, nada que na sua essência já não soubéssemos – o capítulo em causa tem todavia muito mais elementos a fornecer –, mas algo que importa sempre poder ver em contexto. Sobretudo quando ainda temos o Novo Banco à perna e algumas esquinas falantes vão insistindo em alertar os portugueses mais desatentos a estas matérias para o disfarce meramente temporário de casos complicados como os do BANIF e do Montepio.


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