(As
sondagens acumulam-se e as dúvidas de rejeição absoluta da maioria também …)
Não sou especialista em sondagens, leio
atentamente o Pedro Magalhães e as suas advertências sobre a interpretação que
deveremos aos números publicados e sigo com atenção o sítio WEB que acumula
informação sobre sondagens, procurando as tendências mais pesadas. Não tenho
qualquer outra informação sobre quaisquer outras sondagens não publicadas. Com
todas estas limitações e situando-nos na perspetiva de um eleitor médio que é
sensível às dinâmicas de vitória que gosta de partilhar, temos de convir que é
difícil encontrar nesta profusão de sondagens um sinal de conforto para as
pretensões de António Costa. Claro que na Grécia também havia supostamente
empate técnico e o SYRIZA ganhou com cerca de 7 pontos percentuais de vantagem,
tendo perdido apenas um deputado. E a última sondagem da Intercampus para o Público
mantém a diferença favorável à coligação no limiar da margem de erro. E os próprios
números podem atiçar o voto útil no PS. Tudo isso pode ser invocado. Mas que a
coisa está preta para os lados do PS, está e mesmo escura.
Para mim, um dos buracos em que António Costa se colocou pode ser assim
descrito. Sem ter apresentado qualquer reforma incómoda para o eleitorado da
segurança social e com a coligação embrulhada numa grande confusão sobre cortes
ou não cortes da segurança social, o PS conseguiu com a sua “criatividade” de
descida da TSU dos trabalhadores com menos de 60 anos para gerar um choque de
procura conseguiu ser apanhado em contramão como se tivesse apresentado uma
grande reforma e incómoda para a segurança social. Simplesmente notável. E tudo
porque não resistiu à tentação das medidas sociais “means tested”, isto é, sujeitas à verificação da condição de
recursos, sem as explicitar devidamente para poder ser apreendido o seu alcance
em termos de eficácia redistributiva. Simplesmente notável num programa que
pretende reivindicar-se de sensibilidade social. Como já aqui sublinhei uma
vez, as medidas “means tested” têm um
lastro complicado de utilização por parte de governos de direita liberal e
conservadora. Por isso, a sua utilização exige uma eficaz explicação dos
limiares que vão ser utilizados para a condição de recursos.
Com táticas destas, de jogo para trás em direção ao autogolo, começo a compreender
os resultados das sondagens, pressupondo que não há um daqueles falhanços monumentais
que nos darão alguma satisfação na noite do dia 4. É de facto impressionante como
um programa com alguma coerência face a uma mão cheia de nada por parte da
coligação se torna vulnerável apenas pelo facto de não haver uma cuidada
avaliação política do que é proposto.
Não queria antecipar o pior e espero que o meu alarmismo analítico seja
vencido pela dinâmica de terreno até ao dia 4. Mas, pelo sim, pelo não, terei
uma bebida bem forte, preparada e à mão para combater a desilusão.
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