terça-feira, 29 de setembro de 2015

ÀS TANTAS...

(a partir de Helder Oliveira, http://expresso.sapo.pt)

Enquanto a maioria absoluta dos nossos doutos e independentes analistas políticos se deleita em maviosos e sofisticados comentários explicativos do unilateral matraquear das “sondagens” diárias em favor da coligação – do nunca visto! –, ainda vão restando alguns escribas capazes de resistir à encomendada e vergonhosa encenação montada para desativar o que ainda pudesse restar de “costas direitas” nos incautos e cada vez mais desligados cidadãos lusitanos. É o honroso caso do jornalista do “Expresso” Nicolau Santos, a quem peço licença para citar sem mais palavras um seu recente excerto que surgia debaixo do interrogativo título “Por cá, foi o PS que governou desde 2011?”:

Por cá, alguém que não conhecesse o país suporia que foi o PS que esteve no Governo nos últimos quatro anos. Da direita à esquerda só se discute o PS, o programa do PS, as promessas do PS, os cortes na segurança social do PS, o acordo da troika que o PS assinou, o plano secreto que o PS tem para se aliar à CDU e ao BE para não deixar o centro-direita governar. A coligação Portugal à Frente acusa o PS de criar instabilidade e insegurança, a CDU e o BE acusam o PS de subscrever as políticas da direita.
E ninguém debate os últimos quatro anos, os 485 mil emigrantes que vão de engenheiros, economistas e médicos a investigadores, enfermeiros e bombeiros, os cortes nos salários da Função Pública e nas pensões dos reformados, a desmotivação completa dos funcionários públicos, o desemprego, o emprego que está a ser criado (90% é precário), os 50% de portugueses que ganham menos de 8000 euros por ano, o facto de estarmos a trabalhar mais 200 horas por ano e a ganhar em média menos 300 euros, o descalabro na educação (com o silêncio ensurdecedor de Mário Nogueira e da FESAP, ao contrário do que aconteceu quando Maria de Lurdes Rodrigues era ministra da Educação), a miséria que se vive no Serviço Nacional de Saúde (onde muitos profissionais são obrigados a comprar luvas ou a fazer garrotes com material improvisado), os medicamentos que faltam nas farmácias e só estão disponíveis daí a dois dias, a machadada que levou a ciência e investigação, os problemas que se continuam a verificar na justiça, a inexistência de respostas ao envelhecimento da população (em 2014 já havia mais de 4000 pessoas acima dos 100 anos em Portugal e há 595 mil portugueses com mais de 80 anos), a irrelevância do ministro dos Negócios Estrangeiros, a fragilidade da ministra da Administração Interna, as múltiplas garantias de Passos Coelho que foram sempre desmentidas por decisões do próprio Passos Coelho, o programa da coligação que não se discute porque não existe, etc. etc.
Ora, é tudo passado. Como disse Passos Coelho, ‘felizmente conseguimos ultrapassar a situação de emergência financeira que trouxe uma crise que nós resolvemos. Fizemos muito para poder chegar a este momento e os sacrifícios que fizemos valeram a pena. Já não temos necessidade de vos pedir um contributo adicional. Já não temos nenhuma medida restritiva nas pensões’. Pronto, a crise está resolvida e agora é sempre a alargar o cinto.

Eu já estou como aquele árbitro que ficou famoso por ter dito já poder acreditar em tudo depois de ter visto um porco a andar de bicicleta!

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