sábado, 5 de setembro de 2015

FALEMOS DE ESPANHA

(Financial Times)


(Algumas ideias sobre o que RAJOY e o PP têm para mostrar em termos macroeconómicos)

As eleições em Espanha serão posteriores às eleições na Grécia (20 de setembro) e em Portugal (4 de outubro) mas suspeito que os ventos de Espanha tenderão a influenciar a disputa eleitoral em Portugal, não propriamente do ponto de vista da política espanhola, mas fundamentalmente pela macroeconomia.

A situação política de Rajoy é paradoxal: apertado ao longo do tempo do seu mandato por uma série de escândalos de corrupção com epicentros no interior do seu próprio partido e de uma “socialite” que é típica da entourage do PP e pela questão catalã e com o PODEMOS a morder os calcanhares, o PP tem para apresentar uma situação macroeconómica bem melhor do que a maioria em Portugal procura a todo o vapor cenarizar. Isto não significa o melhor dos mundos na economia espanhola. Há dois elementos que continuam a ensombrar a performance macro da economia espanhola: a elevada taxa de desemprego e o facto do produto potencial ainda se situar abaixo do valor que apresentava no eclodir da crise bancária e também de competitividade.

Mas há um conjunto de elementos que são apreciáveis e que diferenciam o pós ajustamento dos espanhóis em relação a Portugal.

Em primeiro lugar, a balança comercial espanhola parece apresentar um comportamento bem mais sustentado do que a portuguesa: é excedentária e é-o mais pelo comportamento das exportações (sobretudo automóveis e camiões) do que pela quebra forçada das importações e não tanto pelo efeito do turismo apesar do seu crescimento. Tudo indica que a Espanha terá recuperado competitividade em relação ao referencial da Alemanha e é importante recordar que, no eclodir da crise, a Espanha tinha umproblema sério de competitividade com os preços internos a subirem mais 2 p.p. do que a inflação média europeia. A desvalorização interna, com a penosidade social conhecida, terá funcionado, com os custos do trabalho a descerem em torno dos 13% relativamente ao referencial alemão. Para além disso, as empresas exportadoras estarão neste momento a investir fortemente, sobretudo aquelas menos endividadas em 2007, aproveitando as condições de crédito que finalmente a ação do BCE estará a fazer chegar à economia real, com impacto no crescimento da produtividade. Não tenho elementos seguros para o afirmar mas creio que o crédito bancário chegou mais depressa aos transacionáveis em Espanha do que em Portugal.

Em segundo lugar, a chamada desalavancagem (desendividamento) do setor privado e do setor bancário assumiram expressões elevadas, o que foi possível graças a uma significativa recomposição da dívida externa: bancos e empresas reduziram o peso no PIB e o Estado aumentou-o com o Eurosistema como o principal credor. A vulnerabilidade da economia espanhola diminuiu apesar da dívida externa em percentagem do PIB permanecer relativamente estável, ligeiramente acima dos 100%.

 (Financial Times)

Em resumo, por mais desajeitado que RAJOY se apresente nas próximas eleições, Pedro Sánchez na liderança do PSOE terá bem mais dificuldade em argumentar contra a situação macroeconómica espanhola do que António Costa em Portugal. O desemprego acima dos 20% e a precariedade serão certamente as tábuas de salvação do PSOE em Espanha, mas pode não bastar para estancar a resistência do PP e os danos colaterais do PODEMOS.

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