(Financial Times)
(Algumas
ideias sobre o que RAJOY e o PP têm para mostrar em termos macroeconómicos)
As eleições em Espanha serão posteriores às eleições na Grécia (20 de
setembro) e em Portugal (4 de outubro) mas suspeito que os ventos de Espanha
tenderão a influenciar a disputa eleitoral em Portugal, não propriamente do
ponto de vista da política espanhola, mas fundamentalmente pela macroeconomia.
A situação política de Rajoy é paradoxal: apertado ao longo do tempo do seu
mandato por uma série de escândalos de corrupção com epicentros no interior do
seu próprio partido e de uma “socialite” que é típica da entourage do PP e pela
questão catalã e com o PODEMOS a morder os calcanhares, o PP tem para
apresentar uma situação macroeconómica bem melhor do que a maioria em Portugal
procura a todo o vapor cenarizar. Isto não significa o melhor dos mundos na
economia espanhola. Há dois elementos que continuam a ensombrar a performance
macro da economia espanhola: a elevada taxa de desemprego e o facto do produto
potencial ainda se situar abaixo do valor que apresentava no eclodir da crise
bancária e também de competitividade.
Mas há um conjunto de elementos que são apreciáveis e que diferenciam o pós
ajustamento dos espanhóis em relação a Portugal.
Em primeiro lugar, a balança comercial espanhola parece apresentar um
comportamento bem mais sustentado do que a portuguesa: é excedentária e é-o
mais pelo comportamento das exportações (sobretudo automóveis e camiões) do que
pela quebra forçada das importações e não tanto pelo efeito do turismo apesar
do seu crescimento. Tudo indica que a Espanha terá recuperado competitividade
em relação ao referencial da Alemanha e é importante recordar que, no eclodir
da crise, a Espanha tinha umproblema sério de competitividade com os preços
internos a subirem mais 2 p.p. do que a inflação média europeia. A desvalorização
interna, com a penosidade social conhecida, terá funcionado, com os custos do
trabalho a descerem em torno dos 13% relativamente ao referencial alemão. Para
além disso, as empresas exportadoras estarão neste momento a investir
fortemente, sobretudo aquelas menos endividadas em 2007, aproveitando as condições
de crédito que finalmente a ação do BCE estará a fazer chegar à economia real,
com impacto no crescimento da produtividade. Não tenho elementos seguros para o
afirmar mas creio que o crédito bancário chegou mais depressa aos transacionáveis
em Espanha do que em Portugal.
Em segundo lugar, a chamada desalavancagem (desendividamento) do setor
privado e do setor bancário assumiram expressões elevadas, o que foi possível
graças a uma significativa recomposição da dívida externa: bancos e empresas
reduziram o peso no PIB e o Estado aumentou-o com o Eurosistema como o
principal credor. A vulnerabilidade da economia espanhola diminuiu apesar da dívida
externa em percentagem do PIB permanecer relativamente estável, ligeiramente
acima dos 100%.
(Financial Times)
Em resumo, por mais desajeitado que RAJOY se apresente nas próximas eleições,
Pedro Sánchez na liderança do PSOE terá bem mais dificuldade em argumentar
contra a situação macroeconómica espanhola do que António Costa em Portugal. O
desemprego acima dos 20% e a precariedade serão certamente as tábuas de salvação
do PSOE em Espanha, mas pode não bastar para estancar a resistência do PP e os
danos colaterais do PODEMOS.
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