terça-feira, 15 de setembro de 2015

A VERGONHA: MAIS SEIS NOTAS MENOS


Uma primeira nota serve apenas para registar escalas comparadas do problema dos refugiados. Sim, caro leitor, é isso mesmo: são 4,3 milhões de sírios que abandonaram o país desde 2011, dos quais somente 348 mil com destino à Europa contra mais de 3,8 milhões absorvidos sem grande espavento por quatro países limítrofes (Turquia, Líbano, Jordânia e Iraque).

(Michael Kontouris, http://www.efsyn.gr)

(Pierre Kroll, http://www.lesoir.be)



A segunda nota tem a ver com a notável visão evidenciada pelas autoridades alemãs que, após umas flores declarativas e algumas medidas louváveis, baquearam perante o afluxo de pessoas e decidiram suspender temporariamente as regras de Schengen e restabelecer os controlos na sua fronteira com a Áustria sem percecionarem as implicações em cadeia que iriam provocar em outros países nem a potencial gravidade de assim estarem a abrir o precedente de introduzirem restrições a um princípio inalienável fundamental de livre circulação.

(Emilio Giannelli, http://www.corriere.it)

O terceiro apontamento reporta-se tão-só à perplexidade com que o cidadão comum europeu assiste à (re)construção de um muro ali na zona do ex-Pacto de Varsóvia, a ponto de largarem o desabafo de que, afinal, agem como se os pobres dos sírios fossem mais perigosos do que os capitalistas.


Uma quarta observação é a do claro embaraço que a situação está a causar dentro do partido dominante na Europa, o PPE. De um lado, os que valorizaram a posição expressa por Merkel e o seu sentido humanista; do outro, os adeptos da linha dura do primeiro-ministro húngaro. Lados aqui incarnados por dois altos personagens da agremiação, o francês Alain Lamassoure (ex-ministro dos Assuntos Europeus e atual presidente da Comissão do Orçamento no Parlamento Europeu) e o falcão bávaro/alemão Manfred Weber (presidente do grupo político no Parlamento Europeu). E julga saber-se que as contradições internas já vão ao ponto de haver quem proponha sanções fortes à Hungria (havendo até algumas sugestões tímidas de expulsão).

(Peter Schrank, http://www.economist.com)

Em quinto lugar, espaço para uma referência muito apropriada deixada por Anne Applebaum no “The Washington Post” de ontem, retomando aliás mais um dos falhanços europeus dos tempos próximos: “Já faz anos que os europeus escolheram fingir que as guerras em curso na Síria e Líbia eram problema de outros. É também uma crise de política externa: em diferentes momentos e por diferentes razões, todos os grandes estados europeus – Grã-Bretanha, França, Itália, Alemanha – bloquearam tentativas de criar uma política externa e de defesa comum, e como resultante não têm nenhuma influência diplomática ou política.”

(Pierre Kroll, http://www.lesoir.be)

A sexta e última nota é a que se relaciona com a inconclusiva cimeira ontem realizada em Bruxelas. Onde Juncker, sempre na sua muito própria e nem sempre feliz – é preciso um feitio muito especial para aceitar papéis sucessivos de patarata em nome de uma ambição que já não tem objeto! –, lá aguentou mais uma vez aquelas velhas rabugentas que vão dominando (ou, pelo menos, empastelando e conspurcando) os areópagos europeus.

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