domingo, 20 de setembro de 2015

AS POMBAS, NÃO OS FALCÕES, INCOMODARAM OS MERCADOS




(Réplicas em torno da decisão do FED da passada quinta feira)

A votação dos membros da FOMC do FED-USA na passada quinta-feira provocou uma reação de sobressalto nos mercados de ações, com descidas dos índices S&P 500, Nikkei e FTSE-Eurofirst. Para essa reação muito contou o facto de se ter registado uma votação significativa (9 para 1) da decisão de não mexer na taxa de referência do banco central. A divisão entre pombas e falcões no FOMC parece ter-se esbatido, com alguns falcões a transformarem-se em pombas ou então, julgam os analistas, há fatores representativos a determinar a sua mudança de opinião.

Os analistas tentaram compreender a decisão, mergulhando fundo no texto que o FED publicou e relendo a conferência de imprensa de Janet Yellen. Pelo que fui seguindo das réplicas jornalísticas que se foram produzindo, há uma frase (argumento) que foi destacada do texto e que muito impressionou os analistas de mercado: “Desenvolvimentos económicos e financeiros recentes da economia global podem restringir de algum modo a atividade económica e podem acrescentar provavelmente uma pressão descendente à inflação no futuro próximo”.  

No fundo o que o FED vem dizer é que está preocupado com o comportamento da economia global e com a perda de vigor das economias emergentes, com a China à cabeça dessas preocupações. John Auters, no Financial Times, analisa a curiosidade das duas maiores economias do mundo estarem condenadas ao perspetivar o comportamento da outra para definirem a sua política monetária. O que não deixa de ser aparentemente surpreendente na medida em que os EUA não são propriamente um grande exportador para a China. Mas a interdependência opera sobretudo através do impacto que o eventual amortecimento do crescimento económico chinês produz na inflação americana rebaixando-a, entre outras vias por via da descida do preço do petróleo. Mais complexo e mais técnico e por isso me abstenho de a comentar é o efeito provocado pela venda de reservas em dólares que as autoridades chinesas têm vindo a realizar, que provoca uma espécie de “quantitative easing” ao contrário, com implicações na subida dos yields de curto prazo americanos.

Parece inverosímil, mas a verdade é que os mercados globais reagiram suspeitosos do FED esclarecer que está preocupado com a atividade económica mundial, coisa que esses mesmos mercados já deveriam ter antecipado. Estamos no domínio da mais pura instabilidade.

O que está em linha com o post do meu colega de blogue.


Outra matéria é a orientação traçada pelo FED de que não basta seguir o comportamento da taxa de desemprego para avaliar do estado da economia. Bradford DeLong continua a chamar a atenção para o comportamento da taxa de emprego (25-54 anos). E o gráfico é revelador .


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