Naquele entusiasmo que tão pateticamente por vezes pretende deixar extravasar – o que será que o Maputo lhe proporcionou desta vez? –, eis o nosso “Paulinho das Feiras” por ele próprio no rescaldo da inauguração da Facim: “Senti-me uma espécie de Oliveira da Figueira. Lembram-se de uma personagem do Tintin que vendia tudo nos mercados externos, tinha uma pasta e vendia uma série de produtos? Eu lembro-me do azeite português (...)”.
Mas nem sempre o nosso tão versátil vice-primeiro-ministro viu aquele personagem de Hergé de um modo suficientemente simpático para a ele se comparar. De facto, quando há vinte e cinco anos dirigia “O Independente” escreveu: “Em Portugal, a história do debate sobre a Europa é uma velha trapaça. O país gosta é de fundos: como somos uma terra de Oliveiras Figueiras, só devemos competir com os gregos na aldrabice institucional”. E, dois anos depois, ainda no mesmo contexto e com Cavaco a chefiar o governo, acrescentou: “Durante um ano, o primeiro-ministro e todo o coro oficial venderam ao país inteiro uma equação oportunista: Maastricht é dinheiro. Justiça feita aos federalistas, porque esses não precisavam do pagamento em moeda para se convencerem da Europa em que acreditam. Mas o Portugal dos Oliveiras da Figueira, esse, deslumbrou-se. Chegou-se a tal ponto que muita gente não se importava de trocar a bandeira ou o Parlamento se lhe dessem mais um quilómetro de estrada. O primeiro-ministro foi o teórico desta barganha em que Portugal exportava soberania e perdia democracia recebendo fundos consideráveis na volta.”
Quem é, afinal, esse “Sr. Oliveira da Figueira, de Lisboa”? Para quem possa não ter lido os álbuns de banda desenhada de Tintin (!), direi apenas que se trata de um comerciante muito insinuante e persuasivo e assim capaz de se aventurar na venda de tudo e mais alguma coisa, incluindo objetos totalmente inúteis para os compradores. Surgiu pela primeira vez em “Os Charutos do Faraó”, num pequeno barco no Mar Vermelho, procurando impingir de tudo ao protagonista – nestes termos: “Muito gosto em conhecê-lo, senhor. E apresento-me sem mais cerimónias: posso fornecer-lhe, a preços sem concorrência, qualquer artigo de que necessite.”; que mereceram de Tintin este desabafo: “Felizmente não me deixei ir na conversa dele. A tipos como este, acaba-se, sempre por comprar uma data de coisas inúteis.” Também em “Tintin no País do Ouro Negro”, Oliveira da Figueira surgiria em Wadesdah a vender um par de patins num árabe fluente e depois, a oferecer a Tintin “um bom copo de vinho de Portugal... do sol do meu país!” Sobre o dito personagem, que é também um inventivo contador de histórias – como naquela interminável narrativa sobre o seu pseudoirmão que gostava de caracóis com que entretém os homens do vilão Müller em “A Ilha Negra” enquanto Tintin procura entrar na casa daquele –, basta que por aqui me fique para que se compreenda o essencial quanto ao conceito que Paulinho tem de si e da nobreza das suas funções público-privadas...
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