(Ilias Makris, http://www.kathimerini.gr)
(Nini La Caille, http://lemonde.fr)
Confesso que foi com algum esforço que consegui briosamente conceder um mês de folga aos leitores deste espaço no que toca a incidências relacionadas com a Grécia. Não que não tenham existido razões bastantes, aliás em direções muito variadas e nem sempre facilmente discerníveis. Mas certo certo, e reduzindo os factos ao mínimo dos mínimos, é que Tsipras lá conseguiu fechar um terceiro resgate com as entidades credoras, após o que esperou pelas ratificações parlamentares (interna e em alguns países europeus, Alemanha à cabeça) para optar por se demitir (na perspetiva de reforçar a sua autoridade no país e de retomar a iniciativa perante um bloco apoiante a erodir-se após sofrer uma importante cisão interna de 25 deputados da ala mais radical) e acabou por forçar a constituição de um governo de transição (liderado pela presidente do Supremo Tribunal, Vassiliki Thanou) até à realização de novas eleições daqui a pouco mais de duas semanas.
As incógnitas sobre todo este verdadeiro thriller de terror que há anos se vem desenrolando com base em Atenas são mais do que muitas. Eu, pelo menos, tenho as maiores das dúvidas sobre um sem número de pormenores, alguns configurando mesmo autênticos “pormaiores”. Assim sendo, e com sorte, só a distância do tempo e a evolução dos acontecimentos permitirão – se, de facto, vierem a permitir... – esclarecer alguns dos seus contornos pessoais/institucionais e os respetivos fundamentos e consequências.
Entretanto, os motores eleitorais aquecem significativamente. Com o Syriza em crescente perda – a “Plataforma de Esquerda”, que rompera para procurar sem sucesso “impor o cancelamento dos memorandos”, constituiu um grupo parlamentar autónomo que denominou “Unidade Popular” e pretende agora apresentar-se a eleições sob a liderança do anterior ministro da Energia, Panayotis Lafazanis) e de estar a braços com outras manifestações de relevante contestação (como as do anterior ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, e da ex-presidente do Parlamento, Zoí Konstandopulu) – e a Nova Democracia em ligeira recuperação (ver primeiro gráfico abaixo indicando o comportamento respetivo nas sondagens desde fevereiro), já poucos são os que arriscam apostar na vitória inequívoca de Tsipras de que ninguém duvidava na segunda quinzena de agosto.
O gráfico mais abaixo representa a primeira de doze sondagens já divulgadas desde que ficou clarificada a necessidade de eleições. Ele permite dar conta da atual relação de forças e, sobretudo, dos riscos cada vez mais presentes de uma pulverização partidária que dificultará coligações minimamente estáveis. Sendo que os principais elementos disponíveis indicam o seguinte: (i) a diferença entre o Syriza e a Nova Democracia estará reduzida a 2-3%; (ii) a votação média do Syriza andará entre os 25 e os 28% (36,3% nas eleições de janeiro) e a da Nova Democracia, após forte queda, tenderá a aproximar-se do nível anteriormente obtido (27,8%); (iii) os neonazis instalam-se no terceiro lugar e os mais pessimistas atribuem-lhes mesmo a possibilidade de chegarem aos dois dígitos; (iv) o To Potami consolida-se como quarto maior partido; (v) o PASOK vai aliar-se com a Esquerda Democrática e irá certamente figurar no arco parlamentar; (vi) os dissidentes do Syriza terão entre 4 e 5%, perdendo alguma representação; (vii) o partido de direita que esteve em coligação governamental com o Syriza (Gregos Independentes) poderá vir a ficar de fora do Parlamento; (viii) é provável que venha ainda a existir uma nova união de centristas no Parlamento; (ix) em torno de 60% dos inquiridos considera que a vitória recairá sobre o Syriza; (x) por último, e muito relevante, o número de indecisos rondará ainda a elevada percentagem de um quinto (entre 17 e 25% consoante as entidades escrutinadoras).
A incerteza grassa, portanto. E ainda vos poupei à análise de um programa de assistência financeira que dificilmente vai dar algo de positivo...
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