(adaptado de Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)
Quem disse que, na legislatura que agora termina, existiram cortes nos salários e nas pensões? Que só por via do Tribunal Constitucional alguns cidadãos viram os seus rendimentos um pouco menos delapidados? Que há hoje menos 210 mil pessoas empregadas do que há quatro anos? Que emigraram nestes anos quase 500 mil portugueses, entre os quais muitíssimos jovens qualificados? Que não foi um mero pesadelo a passagem de um ministro das Finanças chamado Gaspar que lamentava um colossal aumento de impostos e que saiu pela calada logo que lhe foi possível? Que o Governo de Passos não acertou uma previsão do défice e da dívida? Que se fizeram vendas de importantes ativos públicos ao desbarato e a entidades emanando diretamente de Estados tão complicados quanto o chinês ou o angolano? Que Portas se demitiu irrevogavelmente no Verão de 2012 para logo se arrepender em nome de uma promoção governativa? Que esse mesmo Portas prometeu reformar a Administração Pública e até apresentou um guião a tal dirigido? Que houve um caso chamado Citius na Justiça, um estrondoso erro na colocação de professores, inúmeros ataques ao Serviço Nacional de Saúde e um menos percetível desmantelamento do sistema de Segurança Social?
Para já não falar das promessas de Passos na campanha eleitoral de há quatro anos, logo contraditadas pelas suas declarações e decisões enquanto primeiro-ministro eleito: ir além da Troika, combater um país a viver acima das suas possibilidades, estabilizar consolidadamente os portugueses através do empobrecimento, acabar com as pieguices de muitos concidadãos e apontar a porta de saída a outros, obedecer acriticamente aos ditames de uma agenda europeia neoliberal e austeritária, entre muitas outras até agora julgadas inesquecíveis.
(António, http://expresso.sapo.pt)
Concluo: independentemente dos erros que António Costa possa ter cometido (e cometeu vários, a par das virtudes de que também deu provas) – e das tristes e inqualificáveis misérias do partido que representa –, o certo é que é descoroçoante assistir ao desenvolvimento de uma campanha eleitoral assente na menorização repetitiva e desvirtuada do principal programa alternativo por parte de uma coligação no poder que faz de uma antidemocrática ausência de programa, de uma ilegítima apropriação de melhorias económicas epidérmicas e insustentáveis, de uma notável habilidade retórica e ilusionista e de uma exploração do medo da instabilidade as suas armas mais arrasadoras. E se, no final de todas as contas, não só o povo terá razão como sempre mas também nunca faltarão razões para justificar o povo em face do caráter desconcertante do resultado que passará à posteridade, tal não me impedirá de considerar perfeitamente demonstrado quão arrepiantemente estúpida e destruidora é esta democracia da ignorância, da mesquinhez, do fingimento e da manipulação...
(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)
Sem comentários:
Enviar um comentário