(Brian Adcock, http://www.independent.co.uk)
A eleição de Jeremy Corbyn para a liderança do Partido Trabalhista britânico era à partida imprevisível e foi-se tornando sucessivamente mais provável à medida que os barões e as elites do partido – com o desacreditado Blair a ocupar uma contraproducente dianteira – se foram pronunciando de modo deselegante e ofensivo contra o candidato. Este, que até parece um sujeito desinibido e genuíno (talvez mesmo encantador?), foi efetivamente objeto de um corrupio de mísseis vindos de quase todos os lados político-comunicacionais, a eles tendo respondido agora com uma vitória clara e até contundente.
Dito isto, não quero iludir as questões centrais já aqui várias vezes afloradas, quer as do passivo histórico da esquerda trabalhista britânica quer as de uma social-democracia europeia que continua fechada na sua desesperada procura de um rumo que tarda em encontrar. Nem mesmo aquela que parece ser a decorrente do discutível currículo de Corbyn (perdido entre uma completa inexperiência de gestão aos 66 anos e tomadas de posição no mínimo controversas ao longo da sua vida política).
Porque a verdadeira questão que hoje se (re)coloca – quem sabe se não dominada pelos novíssimos moldes com que se confrontará – tem a ver com a possibilidade de vir ou não a existir um alternativo espaço de oportunidade criado por relações de força políticas bem diferenciadas face a passados mais ou menos recentes (Europa à deriva, Estado social em risco, avanço de populismos, falência da “terceira via”, divisões irredutíveis na social-democracia) e que possam ser capazes de permitir a viabilização de posições mais radicalizadas, outrora impensáveis. Ou seja: uma parte significativa do crescente voto de protesto (ou da recusa propriamente dita de votar) pode ainda ser trazida para dentro dos partidos tradicionais? Pessoalmente, tendo a não crer em tal e, portanto, a considerar que Corbyn acabará por ter os seus dias políticos contados a breve trecho.
Não obstante, e como quer que seja, seria curial que se desse tempo ao tempo e se autorizasse a emergência daquela que é a verdadeira prova, o desenrolar dos factos. O que uma revista com a reputação e credibilidade de “The Economist” não quis fazer ao escrever no dia de hoje o seguinte sobre Corbyn: “Mesmo a nomeação de alguns colegas moderados da primeira fila fará pouco para erodir o legado das suas décadas na esquerda dura. Como a sua economia ao estilo venezuelano (imprimir dinheiro e intervenção do Estado), a sua política externa é surpreendente. Ele é visceralmente antiamericano, não gosta da NATO, quer acabar com as armas nucleares da Grã-Bretanha, culpa o Ocidente pela invasão russa da Ucrânia e não vê circunstâncias em que enviasse tropas britânicas para lutar fora do país. Consorciou-se com grupos terroristas, incluindo o IRA, o Hamas e o Hezbollah. É morno sobre a União Europeia, o que não vai ajudar o Sr. Cameron a afastar um Brexit. Enquanto isso, chovem parabéns: de Bernie Sanders na América a alemães nostálgicos da RDA e à argentina Cristina Kirchner. Ela gosta do seu plano de uma soberania conjunta sobre as Ilhas Malvinas – outro fogo certo sobre o vencedor do voto.” Não havia necessidade de assim se baixar tanto a fasquia...
(Christian Adams, http://www.telegraph.co.uk)
(Peter Brookes, http://www.thetimes.co.uk)
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