(Em torno
da curiosidade de uma notícia no El País de hoje)
Falaremos hoje de cassetes e não será no âmbito dos preliminares
eleitorais, embora a cantilena da maioria esteja entre as candidatas mais sérias
para ocupar o lugar. A questão incide mesmo por mais estranho que possa parecer
sobre o artefacto tecnológico inseparável de outro instrumento, o gravador.
O pretexto é uma notícia do El País de hoje, centrada no aparente
ressurgimento da National Audio Company
(NAC), a maior empresa americana e talvez do mundo, creio eu, de produção e
difusão de cassetes.
O assunto interessa-me não por querer animar qualquer revivalismo tecnológico
ou criar uma espécie de liga de amigos da cassete. Tenho convivido bem com a
sucessão acelerada dos gadgets tecnológicos e enquanto as meninges o permitirem,
embora não esteja nas filas para as primeiras compras de um gadget novo, acabo
sempre por aderir à nova tendência.
O assunto interessa-me porque a indeterminação dos processos de inovação e
o que ela traz em matéria de imprevisibilidade de saber se, quando e em que
proporções decisivas, um determinado produto irá substituir tecnologicamente um
outro, é uma questão fascinante. A história da tecnologia está repleta de situações
diversificadas. Temos por exemplo a hipótese de durante largo tempo os produtos
conviverem numa luta frenética sobre quem vai recolher a aprovação definitiva
dos consumidores. Não tenho números mas tablets
e portáteis leves e de muita pequena dimensão é provável que venham a coexistir
durante algum tempo, tendendo depois a estabilizar quotas diferenciadas de
mercado. Ou ainda a luta hoje em curso da música em regime de download direto e o CD, com a
flexibilidade da primeira lentamente a impor-se. Há casos ainda de mortes
anunciadas a que se seguem revivalismos ressuscitadores, protagonizados por consumidores
muito particulares que através de redes sociais de consumo conseguem suster a
morte do produto e a rodeá-lo de um certo charme. Parece ser o caso do disco vinyl,
que continua a interessar a alguns consumidores.
É uma questão fascinante pois ela não depende da relação entre produto e
consumidor. Ela depende também de inovações tecnológicas complementares, como
foi o caso na esfera musical em que estamos nesta reflexão concentrados de
inovações como o I Tunes, o Spotify só para falar nos que são do conhecimento
de cotas como eu que se iludem com o acompanhamento da tecnologia.
A notícia do El País dá conta surpreendentemente do aumento de produção da NAC
de cassetes, com um volume superior a 10.000.000 de unidades e o que é curioso é
que dessa produção 70% respeita à difusão de cassetes com música de grupos
independentes e apenas 30% de cassetes virgens. Estaremos aqui perante um
ressurgimento que contraria uma morte anunciada, estando esse ressurgimento associado
à procura de veículos de difusão de música ainda não oligopolizados? Valerá a
pena conservar os nossos velhos gadgets de cassetes, walkmans e outros que tais? Não me parece, mas ...
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