quarta-feira, 16 de setembro de 2015

VENHAM A NÓS AS SENHORAS, TODINHAS!



Estava longe de imaginar que Ricardo Araújo Pereira (RAP) iria abordar esta mesma questão no programa (“Isso é tudo muito bonito mas”) que tem em curso na TVI, mas foi realmente o caso. Paciência, aí vai na mesma o meu registo!

Acima, a abrir este post, o momento em que, ontem à noite em Évora, Passos explica aos seus ouvintes – de dedo espetado e sorriso nos lábios, sorriso que passará aliás a um riso aberto entre o apatetado e o contentinho consigo próprio – que “quem tem os filhos são as mulheres”!

Numa noite de particular inspiração, Passos saiu-se com várias pérolas, bem reveladoras da sua rara genialidade. Como aquela do “é muito importante que as mulheres que desejem ter mais filhos sintam que a sociedade lhes reconhece também essa vontade de ajudar o país a crescer sustentadamente” (sic, bem justificando aquela tirada de RAP citando uma dessas hipotéticas senhoras com vontade de ajudar o país a crescer sustentadamente, assim: “já urinei para aqui – daqui a nove meses, vamos ter um consumidorzinho”!) ou aquela outra do “e dar-lhes por essa razão uma majoração na forma como a sua pensão no futuro será calculada” (sic, também!). Ou a reafirmação da justiça de que seja assim: “em primeiro lugar, porque quem tem os filhos são as mulheres, quem tem os filhos são as mulheres” e “em segundo lugar, porque assim sabemos exatamente quantos filhos é que estamos a reconhecer... no futuro”. A sério? Não tenho palavras! Valha-nos Nossa Senhora dos Aflitos! Sinceramente...

Mas os ares do Alentejo são especialmente felizes para a pose e o verbo de Passos. Vejam-no só na noite anterior em Portalegre (imagens abaixo), orgulhoso (“o emprego começa a mostrar, qual candeia que alumia à frente, o melhor tempo que aí vem”), jocoso (“agora, até o dr. António Costa já pode convidar os jovens portugueses que emigraram a regressarem a Portugal porque nós já estamos a criar emprego para que isso seja possível”) ou furioso (“não me venham falar do dr. Dias Loureiro!”). Mas em invariável grande forma e sempre deleitado com a sua magnífica figura...


Por outro lado, e a concluir, pergunto-me: o que terá tão subitamente atacado os responsáveis da coligação para surgirem tão prolixamente a tratar questões de género e associadas ao eterno feminino? Sim, porque aquelas ridículas declarações de Passos vinham na linha direta de outras em que Portas de olhos semicerrados (como quem sabe a música de cor) explicava que nenhuma das desgraças da História é atribuível a uma mulher e que só as mulheres são zelosas a pagar as contas a 28 e não a 15 do mês seguinte, não sem ir ao ponto de as engrandecer na multiplicidade das suas tarefas (organizar a casa, conciliar casa e trabalho, pensar nos mais velhos e cuidar dos mais novos, nada menos!). Mas acreditarão estas tão básicas e demagógicas criaturas que a mulher portuguesa, por muitas limitações que ainda possa possuir, admite comprar esta banha da cobra bafienta e quase insultuosa?

Sem comentários:

Enviar um comentário