sábado, 12 de setembro de 2015

O MARIALVA DA POLÍTICA PORTUGUESA



É de dia para dia que Pires (o ministro) me faz mais lembrar Pires (o já falecido grande escritor José Cardoso Pires). Sem qualquer ofensa para este, quero em absoluto deixar sublinhado.

De facto, as aparições públicas daquele Pires aproximam-no a olhos e ouvidos vistos do ridículo que se associa àquela figura tão bem descrita pelo escritor na sua “Cartilha do Marialva”. Que começava assim:
Marialva é o antilibertino português, privilegiado em nome da razão de Casa e Sangue, cuja configuração social e intelectual se define, nas suas tonalidades mais vincadas, no decorrer do século XVIII.
No convencionalismo popular (ou antes pequeno-burguês) marialva é o fidalgo (forma primitiva de “privilegiado”) boémio e estoura-vergas. Socialmente será outra coisa: um individuo interessado em certo tipo de economia e em certa fisionomia política assente no irracionalismo.

Não o parecendo, a criatura em apreço é politicamente pouco inteligente – daí que venha para seu bem, e dos apaniguados, o anúncio de que vai voltar a funções privadas. A altíssima conta em que se tem, o gosto que lhe dá ouvir-se – está aliás intumescido de satisfação consigo próprio –, o seu simplório paternalismo e os trejeitos amaneirados de que se socorre são ingredientes de uma receita completamente intragável em termos transversais à sociedade portuguesa, das tias de Cascais às tascas da Província.

O último momento “pirista” a que por acaso acedi foi preenchido com a seguinte declaração, teatralmente encenada entre um sorrisinho malandro e vitorioso e um ar concentrado e olhos fechados (como diria o Carlos Paião): “Tenham cuidado, portugueses, com políticos que se apresentam como uma espécie de salvadores da Pátria e anunciam criações de emprego (...), quando todos nós sabemos que quem cria emprego, esse poder, está nas empresas, no setor privado. Desconfiem de políticos que fazem promessas que não dependem deles.” Valha-lhe a eternidade de La Palisse!

Ora mais kitsch ora mais bimbo, mas sempre pires e mui digno daquele consagrado dito: “Ah, fadista”!

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