Volto ao assunto internacional do momento, o caso Volkswagen. Com algumas atualizações relevantes, enquadradas acima por duas notáveis capas de revista – publicações aliás insuspeitas de qualquer radicalismo ou má vontade relativamente ao sistema ou aos nossos irmãos alemães – e abaixo por duas gamas de vinhetas bem clarificadoras da essência dos factos em causa e da tipologia de reações internas e externas à Alemanha face aos mesmos.
Mas não quereria deter-me por aqui, uma vez que a catadupa de notícias em torno da matéria não para e que algumas delas nos oferecem bons motivos de reflexão. Telegraficamente, elejo quatro tópicos: (i) o primeiro tem a ver coma questão do management pay, um assunto que vai vindo à baila recorrentemente mas sem grande sucesso em termos de introdução de correções, designadamente pela via de mecanismos de objetivação, equilíbrio e transparência mais apropriados e razoáveis – constate-se abaixo a obscenidade do “milhionário” pagamento que vinha sendo feito ao principal responsável da empresa e, pasme-se, do volume de pensões e indemnizações a que poderá ter direito após a sua recente demissão na sequência do escândalo; (ii) o segundo reporta-se a what lies ahead, nos termos de um artigo nesse sentido detalhado pelo “Frankfurter Allgemeine” (excluindo impactos indiretos): uma multa da agência de proteção ambiental EPA potencialmente ascendendo a 18 mil milhões de euros, o risco de uma ação coletiva empreendida pelos compradores americanos da marca e atingindo um valor múltiplo daquela multa, os custos diretos associados à colocação de um segundo conversor nas viaturas, uma indemnização estimada em até 22 mil milhões de euros devida aos consumidores europeus que pagaram um prémio pela sua aquisição de um carro amigo do ambiente, as eventuais indemnizações que venham a ser judicialmente decididas compensatoriamente às enormes perdas sofridas pelos investidores e as eventuais condenações associadas a processos individuais abertos por danos de saúde, podendo a totalidade destes itens ser conservadoramente avaliada num valor entre 50 e 100 mil milhões de euros (triplicável pelos tribunais americanos, segundo os mais pessimistas que recordam que o balanço do Grupo equivalia a 371 mil milhões em finais de 2014); (iii) o terceiro corresponde às perdas que venham a ser efetivadas por parte de investidores internacionais relevantes/impactantes, como já acontece com os fundos soberanos do Qatar (detentor de 17% e 13% das ações preferenciais e ordinárias, respetivamente) e da Noruega (stake de 2% no Grupo); (iv) o último, de uma escala macroeconomicamente assustadora, provém de um cálculo disponibilizado por Wolfgang Münchau, e por ele próprio considerado necessariamente grosseiro, segundo o qual os custos para a Volkswagen (e para o Estado alemão se vier a ter de haver um bailout) poderá exceder qualquer dano hipotético que viesse a decorrer para a Alemanha em caso de ocorrência de um “Grexit”.
Já não falando dos pecadores alemães, que quando pecam é por coisa que se veja, ainda haverá alguém iludido pelas virtudes e moralidades conceptualmente apregoadas em nome da dignidade da pessoa humana e do progresso e estabilidade do sistema capitalista?
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