(Ou a influência
que o “soft power” exerce na capacidade de exportação de um país)
É muito frequentemente quem trabalha por qualquer motivo com empresários
portugueses inseridos na economia global ouvir dos mais apetrechados e
preparados para estar na economia global, isto é, dos que têm mostrado
resultados nesse campo adverso, queixas amargas sobre o impacto que o efeito
global de país exerce no seu esforço de exportação.
Foi assim com a irrepreensível e consistente afirmação do calçado português
que apesar da sua espantosa trajetória de modernidade demorou muito tempo a
superar as dificuldades decorrentes de uma imagem global de país que não estava
de acordo com a trajetória de modernidade do setor. Ouvi muitas vezes em tempos
passados a afirmação de que os exportadores portugueses poderiam oferecer
globalmente (incluindo o design) um sapato igual a um italiano que não
conseguiam mesmo assim conseguir vender o referido produto pelo preço médio a
que o sapato italiano era vendido.
É assim hoje, por exemplo, com os vinhos do Douro que continuam a ser
penalizados inclusive os de maior excelência pela inexistência de uma “prateleira
Portugal” nos setores de distribuição. A questão é tão premente para alguns,
sobretudo para os que são detentores de marcas internacionais, que chegam ao
pormenor de esconder o mais possível o selo de certificação do Instituto do
Vinho do Douro e do Porto para não chamuscar a sua própria marca que está para
além do efeito país.
O efeito global de país é produzido por vários fatores que vão desde a
dimensão pequena do país até às por vezes contraditórias imagens globais que
Portugal vai difundindo, umas vezes por força de marketing apressado, outras
vezes pela própria piroseira com que alguns produtores se apresentam
internacionalmente.
Até aqui desconhecia estudos concretos sobre a quantificação da influência
global desse efeito país nos resultados do comércio externo, cuja existência teria
permitido avaliar se as queixas dos referidos exportadores tinham fundamento.
Pois, ontem, no VOX EU, Andrew Rose dava conta de algo que pode ser
inserido numa designação ampla de efeito global de país. O professor da Haas
Business School da Universidade de Berkeley desenvolve o conceito de soft power de um país que é determinado
pela atratividade da sua cultura, políticas e política em geral, em clara
oposição ao de hard power, mais coercivo e
baseado na capacidade de utilização da força. Rose consegue demonstrar que,
tudo o resto constante, um crescimento líquido de 1% no soft power de um país
gera, com tudo o resto constante, 0,8 de crescimento adicional das suas
exportações, o que não deixa de ser um dado curioso pois o soft
power, ao contrário do hard power, está praticamente fora
do controlo do país em causa, já que é o resultado de uma miríade de fatores.
Como é óbvio, esta ideia de Rose, que podemos sintetizar no efeito “gostas
de mim, compra-me”, terá de estar fundamentado em primeiro lugar num conceito
consistente de soft power, que vai
buscar a investigação em ciência política de J.Nye e em segundo lugar em dados
empíricos que permitam medir a aceitação de um país por via de valores integráveis
no já referido soft power. A verdade é
que há inquéritos para tudo e o BBC Global Scan é um projeto desenvolvido pela BBC
a partir de 2006 em colaboração com a universidade de Maryland e que
proporciona séries consistentes desde essa data.
Não vou entrar em pormenores sobre o aparato econométrico que suporta o
estudo. Deixo-vos apenas com a comparação entre 2006 e 2013 de perceções
positivas ou negativas que diferentes países alimentam em relação, por exemplo
os Estados Unidos. Um país abaixo da reta de 45% significa que em 2013 tinha
uma perceção mais positiva ou mais negativa consoante o caso em relação aos EUA
e se estiver acima dessa reta de 45º acontecerá rigorosamente o contrário. Definida
a variação na perceção e controlando por outras variáveis que possam ter
influenciado as exportações para esse país que emite a perceção positiva ou
negativa é possível aferir do efeito sobre as exportações.
E assim teríamos uma medida aproximada do efeito global de país.
Já estou a ver o Paulinho Portas a tentar destrinçar em que medida terá
influenciado a perceção de alguns países em relação a Portugal.
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