quarta-feira, 16 de setembro de 2015

PRELIMINARES ELEITORAIS IV




(Não entendo por que razão António Costa e o PS se deixaram enredar na questão “fui eu ou foste tu que trouxeste a TROIKA?”)

Já não tenho pachorra e certamente comigo uma faixa significativa do eleitorado para aguentar este debate espúrio sobre quem trouxe a Troika a Portugal. Trocas de acusações, entradas em cena do impagável Catroga, carta de Passos a Sócrates, tentativas de reconstituição das pressões sobre Sócrates, reinvenções da história, tudo serviu para aquecer o tema. Mas será que o PS terá algum interesse em seguir por esta via? Será que ambiciona reescrever a história? Um debate deste tipo só em meu entender interessa à maioria. A história é-lhe favorável, embora possamos considerar a carta de Passos a Sócrates apoiando-o no pedido de ajuda externa uma oferta cínica de veneno. António Costa tem dito que o PS assume todas as responsabilidades de governação desde o primeiro governo de Mário Soares até ao último de Sócrates, para o bem e para o mal. Pois a ajuda externa é solicitada em tempo de governação de Sócrates e sabemos que essa invocação é o resultado de um misto de influência de crise internacional e insustentabilidade do modelo de alocação de recursos na economia portuguesa. Estou convicto que a primeira ampliou as fragilidades da segunda. Sim, tudo bem. E depois? O que é que isso conta para definir o futuro pós 4 de outubro, quando Passos Coelho e a maioria chegam ao poder precisamente pelos custos dessa história?

Enrolar-se no passado que precedeu a chegada da maioria ao governo só interessa à maioria, decidida que está em ocultar os custos da sua governação e a ausência de perspetivas diferenciadas quanto ao futuro. O PS não pode deixar de concentrar-se num objetivo central. Demonstrar com a maior clareza possível que a sua aposta não é um tiro no escuro, mas uma alternativa mais credível do que o mais do mesmo da maioria, por mais que se queira glosar até à exaustão a preferência dos portugueses por uma coisa que se conhece em relação a uma alternativa desconhecida. As eleições decidem-se nessa questão fundamental, toda a encenação restante é prejudicial a esse objetivo. Chegada da Troika, tratado orçamental, efeitos perversos da governação de Sócrates não podem ser escondidos da história ou reprogramados na máquina do tempo, mas António Costa tem arcaboiço suficiente para se demarcar de tudo isso, pois não é isso que está em questão. O que está em questão são as opções para o pós 4 de outubro. Apenas isso.

Parece que finalmente estou de acordo com o Francisco Assis.

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