quinta-feira, 10 de setembro de 2015

O DEBATE


Em definitivo: não é especialmente interessante nem recomendável ver um jogo em diferido. Só que foi isso mesmo que teve de me suceder com o debate Costa-Passos, como expliquei devido a excelentes motivos pessoais de força maior. Afinal, a emoção esteve ausente: excecionando os fundamentalistas que já se acotovelam à volta do “Observador” (Fernandes, Avillez, Ramos, Villaverde, Matos, Sande, Ferreira, Almeida, Alves e tantos outros ideólogos e partisans), os analistas e comentadores foram praticamente unânimes em considerar que Costa venceu o debate de forma clara, chegando mesmo a conseguir (digo eu) por a nu a apressada impreparação do primeiro-ministro e a sua aflitiva indigência intelectual.

Dito isto, que em termos estritamente conclusivos é o essencial, quero sinteticamente sublinhar algumas outras vertentes da questão. Primeiro, o debate mais visto de sempre foi pouco atrativo e muito fraco, largamente por culpa de uma moderação confrangedora, entre desajeitadamente tripartida e ridiculamente protagonista. Segundo, o debate passou ao lado de temas cruciais para o Portugal do futuro, da Europa à Justiça para só referenciar os mais óbvios de entre muitos. Terceiro, o debate revelou um Costa à altura do seu atual desafio e só confirmou assim o bem fundado da perplexidade de muitos perante a estratégia que seguiu (triunfalista? acomodada? inconsequente? desastrada?) na sequência de ter infligido aquela tão larga derrota interna a Seguro. Quarto, o debate teve então um vencedor e pode até ter contribuído para dar um novo élan ao(s) socialista(s), mas não é nada certo que este ainda chegue a horas de inverter o deprimente e medroso conformismo que se instalou no espírito de uma maioria dos portugueses e que assenta preferencialmente os seus arraiais numa alegada e mentirosa estabilidade. Quinto, e último, o debate foi também perigoso, designadamente ao vir alimentar a errada lógica de que tudo se joga a 4 de outubro quando, infelizmente, as nossas principais tormentas não poderão deixar de se voltar a fazer sentir a partir do dia seguinte. Espero bem que estas três semanas passem rapidinho...

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