sexta-feira, 11 de setembro de 2015

OUTROS ÂNGULOS DO 9/11


Por ocasião de mais um aniversário do 11 de setembro – catorze anos já! –, um suplemento cultural do “Le Monde” de hoje registava a seguinte e excelente observação e procurava refletir em torno dela: “Apesar da retumbância planetária dos atentados contra o World Trade Center, bem poucos artistas se arriscaram no tema. Como se o poder vertiginoso das imagens originais esmagasse com todo o seu peso as tentativas de representação.”

Recordando aquela provocadoramente chocante conferência de imprensa do compositor Stockhausen em que, ainda em setembro de 2001, se referiu aos ataques como “a maior obra de arte alguma vez realizada”, o jornalista que assina a peça elabora em várias direções sobre o assunto. Escolho apenas uma delas, aquela em que o pintor francês Stéphane Pencréac’h sustenta que a representação do atentado tal como o vimos corresponde de certo modo a repeti-lo e, portanto, a perpetuar a ação terrorista, explicando ainda: “Representar o 11 de setembro é, para mim, ‘desrepresentá-lo’. Para lutar contra uma imagem, é necessário desconstrui-la, e é justamente isso que a arte consegue. É esse poder da arte que é visado pelas destruições mediáticas de Daech. Eu fiz este ano um quadro sobre o 11 de setembro [“World Trade Center”, reproduzido na imagem que abre este post], mudando o ponto de vista e o momento: na primeira pessoa, no avião, e imediatamente antes. Uma imagem que não existia até então. Uma imagem para estar do lado do humano.”

E, nada mais do que for the record, junto abaixo uma outra imagem daquele que será provavelmente o quadro mundialmente mais referenciado sobre o tema e objeto de grande polémica – óleo de pequena dimensão (72cmx52cm), de tela significativamente turva e de difícil perceção imediata e escassa espetacularidade, exceção nas opções do autor (que estava naquela manhã num dos voos com destino aos Estados Unidos que foram desviados devido ao encerramento do espaço aéreo) –, já um clássico da arte contemporânea: “September” (2005) do reputado artista alemão Gerhard Richter, em exposição no MoMA. Interpelar pela arte ainda é do que nos vai restando...

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