(Como
interpretar a resiliência do SYRIZA?)
Com pouco mais de 50% dos votos oficialmente
contados, os resultados que podem ser inferidos deste ponto de situação indicam
que Tsipras e o SYRIZA evidenciam uma resiliência superior à que transparecia
das últimas sondagens. Quer isto significar que o esperado sacrifício do
cordeiro não se concretizou e que a armadilha do programa do 3º resgate imposto
como punição do referendo não surtiu efeito.
Interpreto assim o resultado. Os gregos, entre depositar a sua confiança numa
liderança que bateu o pé ao diretório europeu, embora punido pelas forças do
TINA que impiedosamente suscitaram o terceiro programa de resgate depois de
tanta ameaça ou entregar-se à força política que durante largo tempo vogou ao
sabor dos interesses oligárquicos, optaram pela primeira. Provavelmente não
esperam daí a salvação. Mas intuem que o SYRIZA será um osso mais difícil de
roer e que tudo tentará para ajustar o programa de resgate à capacidade de
transformação possível. A resiliência de Tsipras é notável, mesmo depois da cisão
interna que tudo leva a crer não surtirá efeito em termos parlamentares, pois o
grupo dissidente muito dificilmente terá assento parlamentar.
Não quero aqui discutir se o SYRIZA será capaz de levar a bom porto (talvez
já privatizados) a economia grega. Talvez venha a perder-se na implementação do
terceiro resgate. Mas não posso deixar de saudar a coragem e consistência dos
gregos em representarem a única evidência europeia de combate e resistência às
forças do TINA. Talvez não esperasse a decisão de manter a coligação com o
partido nacionalista. Mas até aqui se compreende a pincelada nacionalista que o
SYRIZA precisa para negociar com Bruxelas. Com esta eleição adicional, muito dificilmente
se pode continuar a falar de uma experiência vanguardista suicida. Ela tem
respaldo democrático. Talvez valesse a pena compreender a decisão dos gregos em
manter o seu apoio maioritário a Tsipras e ao SYRIZA. Isto num modelo em que
pudéssemos esperar que as autoridades europeias respeitassem e procurassem
interpretar o que povos expressam nas urnas e não que as considerassem um
desperdício de tempo e uma incomodidade para os seus propósitos. Hoje já não
acrescenta muito dizer que os gregos merecem respeito histórico, pois aí nasceu
a democracia. Mas que os gregos resistem e que continuam a valorizar a
soberania das suas decisões ninguém o pode ignorar. A sua coragem merece a
maior admiração.
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