domingo, 20 de julho de 2014

A SENSATEZ DE JANET



A New Yorker tem pela pena de Nicholas Lemann uma excelente peça sobre a Presidente em exercício do FED – USA Janet Yellen e indiretamente também sobre o seu marido, o economista e nobel George Akerlof, que aqui se recomenda para compreender a segurança com que poderemos contar ao leme de uma das instituições mais influentes na economia mundial.
Janet Yellen tem nos últimos tempos sido fortemente pressionada para abrandar mais aceleradamente a sua política monetária de ajuda à economia americana e simultaneamente subir taxas de juro como remédio segundo alguns para combater os traços de instabilidade financeira que se vão vivendo em contexto de custo do dinheiro praticamente zero. As origens dessa pressão são provenientes sobretudo dos chamados falcões da inflação, isto é, as forças económicas e políticas que pressentem pressões inflacionárias onde economistas com um mínimo de distância rejeitam existir.
A sensatez e simultaneamente firmeza com que Yellen tem fundamentadamente combatido essas pressões, lembrando com pertinência que é sempre mais fácil corrigir uma intervenção anti-inflacionária tardia do que um precoce aperto da política monetária gerador de desemprego e anunciando uma muito gradual diminuição dos apoios do FED à economia americana inspiram confiança. Mostram também como é retribuidor termos à frente de uma instituição como o FED alguém que está bem consciente do duplo mandato que a instituição tem de cumprir, estabilidade dos preços e combate ao desemprego. E percebe-se também como por contraponto se compreende cada vez melhor a tontice que foi desenhar um mandato para o BCE exclusivamente comando pelo objetivo da estabilidade nominal da economia ainda por cima numa época em que o mainstream dava por certo que o “zero lower bound” estava guardado nas arrecadações.

Como só a New Yorker consegue fazer, a peça de Lemann ajuda-nos a perceber como Yellen é sensível ao comportamento do desemprego, dominando como poucos os meandros da política monetária. E é com prestações desta natureza que nos poderemos reconciliar com o lugar dos economistas na sociedade, o que não é coisa pequena nos tempos que vão correndo.

Para completar esta perceção da sobriedade e segurança de Yellen, é também leitura obrigatória a sua Michel Camdessus Central Banking Lecture no FMI em 2 de julho de 2014, centrada no tema “MonetaryPolicy and Financial Stability”.
 

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