segunda-feira, 7 de julho de 2014

HASTA SIEMPRE D. ALFREDO

(Vinheta de Forges de homenagem a Di Stéfano)


A imagem de Di Stéfano mistura-se na minha memória dos anos 60 já em dissipação, quando o Real Madrid não era ainda a equipa galática, do merchandising, do empolamento comercial das suas estrelas, preparada ao milímetro.
Nessa memória já a dissipar-se, resiste a imagem de D. Alfredo no campo, uma espécie de jogador completo, de uma inteligência rara, alguém que já foi chamado de futebolista panorâmico, isto é, com uma rara capacidade de ver num relance todo o relvado, independentemente da posição em que o fizesse. A ideia do jogador total, capaz de arrastar toda uma equipa, confundiu-se com o próprio Di Stéfano, autor da assistência mortífera ou do remate indefensável.
Expoente de um futebol que já se extinguiu, por ironia dos tempos, a notícia do seu desaparecimento coincide com a publicação de uma notícia que atesta a “pretensa cientificidade” do futebol de hoje. A propósito da arriscadíssima jogada tática de Van Gaal, preferindo reservar a terceira substituição para a entrada de Tim Krul (Newcastle) e com isso o risco de comprometer a utilização da terceira alternativa de campo, o El País publica hoje, com o título “As grandes penalidades são uma ciência”, a referência a um estudo feito por um matemático inglês sobre cerca de 11.000 grandes penalidades, em torno do qual podem ser encontradas grandes regularidades. Krul, ao acertar no lado de todas as penalidades concretizadas pelos jogadores da Costa Rica, fez despertar os ventos dessa pretensa cientificidade, sugerindo a certeza “matemática” de Van Gaal na sua decisão.
Para mim, fica a metáfora do confronto entre os dois mundos. A do universo de Di Stéfano, cuja presença no campo era ela própria o paradigma e o universo dos apontamentos estatísticos rigorosos (o caderno de Van Gaal). Compará-los não tem sentido. É o mundo da evolução e isso basta-me.

Sem comentários:

Enviar um comentário