(Vinheta de Forges de homenagem a Di Stéfano)
A imagem de Di Stéfano mistura-se na minha memória
dos anos 60 já em dissipação, quando o Real Madrid não era ainda a equipa galática,
do merchandising, do empolamento
comercial das suas estrelas, preparada ao milímetro.
Nessa memória já a dissipar-se, resiste a imagem
de D. Alfredo no campo, uma espécie de jogador completo, de uma inteligência
rara, alguém que já foi chamado de futebolista panorâmico, isto é, com uma rara capacidade de ver num relance todo o
relvado, independentemente da posição em que o fizesse. A ideia do jogador total,
capaz de arrastar toda uma equipa, confundiu-se com o próprio Di Stéfano, autor
da assistência mortífera ou do remate indefensável.
Expoente de um futebol que já se extinguiu, por
ironia dos tempos, a notícia do seu desaparecimento coincide com a publicação
de uma notícia que atesta a “pretensa cientificidade” do futebol de hoje. A
propósito da arriscadíssima jogada tática de Van Gaal, preferindo reservar a
terceira substituição para a entrada de Tim Krul (Newcastle) e com isso o risco
de comprometer a utilização da terceira alternativa de campo, o El País publica
hoje, com o título “As grandes penalidades são uma ciência”, a referência a um estudo feito por um matemático
inglês sobre cerca de 11.000 grandes penalidades, em torno do qual podem ser
encontradas grandes regularidades. Krul, ao acertar no lado de todas as
penalidades concretizadas pelos jogadores da Costa Rica, fez despertar os
ventos dessa pretensa cientificidade, sugerindo a certeza “matemática” de Van
Gaal na sua decisão.
Para mim, fica a metáfora do confronto entre os
dois mundos. A do universo de Di Stéfano, cuja presença no campo era ela própria
o paradigma e o universo dos apontamentos estatísticos rigorosos (o caderno de
Van Gaal). Compará-los não tem sentido. É o mundo da evolução e isso basta-me.
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