A situação na Catalunha sempre ocupou nas minhas
reflexões para este blogue um lugar de relevo, sobretudo porque me interessa
analisar as pulsões do independentismo ou federalismo regional nos contextos
atuais da crise do euro e da própria globalização.
A leitura dos jornais espanhóis em férias permite
uma monitorização permanente do processo já que se avizinha a tal reunião entre
Rajoy e Mas que poderá desbloquear ou agravar seriamente a tensão soberanista
catalã e o El País e o El Mundo
dedicam regularmente uma atenção regular ao pulsar catalão.
O El País de hoje inicia uma série de três artigos
sobre a realidade catalã e avança com dados interessantes sobre o tema, tendo
por base o contexto de segundo as mais recentes sondagens cerca de 45% (março
de 2014) (com duas outras sondagens a apontar para 47 e 40% respetivamente)da
população defende o estatuto independentista para a Catalunha, o que contrasta
fortemente com os 19,4% de 2010 (janeiro).
Mas, a meu ver, mais importante do que este
deslocamento para a tensão independentista (que poderá ter razões na crise
espanhola, no comportamento pouco hábil do governo atual e sobretudo no chumbo
constitucional do estatuto da Catalunha) é a alteração do perfil dessa pulsão
independentista, que começa a afastar-se do nacionalismo identitário mais
tradicional, a que não é estranho o facto de 14% dos novos independentistas
terem nascido fora da Catalunha.
O artigo situa nesta marcha para a tensão da
independência diferentes origens que vão desde os federalistas desencantados,
jovens indignados e mesmo imigrantes acossados (que representam cerca de 4% dos
novos independentistas) até aos republicanos mais convictos, numa linha de
querer começar do zero. O Catedrático de História Contemporânea Borja de Riquer
designa eloquentemente este deslocamento dos 19 para os 45% de “soberanismo prático”,
sem dúvida uma bela expressão.
Mas de toda esta mudança do perfil
independentista a que mais me impressionou é a chegada a este grupo de muitas
gente que defendeu até à exaustão a saída federal (a Espanha das nações) e fá-lo
pela convicção de que essa solução está já ultrapassada pela incapacidade
negocial seja da CiU, seja do PP, agora investido em funções de poder. Ainda hoje
considero que a saída federal da Espanha das Nações é a margem de manobra
existente, mas tenho de confessar que perdi há algum tempo o contacto com
observadores privilegiados da experiência catalã e não ignoro que a tensão pode
apontar para outras saídas de grande imprevisibilidade.
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