A complexa e atribulada problemática nacional do
BES-GES sobrepôs-se ao comentário que seria necessário aqui produzir sobre a
iniciativa dos chamados BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul)
desafiarem o universo de influência do Banco Mundial, criando um banco de
desenvolvimento.
Dois quintos da população mundial, um terço do
produto mundial (avaliado à paridade dos poderes de compra) e um quinto do comércio
mundial justificam uma maior autonomia dos emergentes, embora a construção de
uma estratégia entre estas cinco forças vá ser um projeto de grande
complexidade, sobretudo no contexto atual das sanções a uma Rússia de duvidosas
tentações.
Branco Milanovic, economista que já foi associado
ao Banco Mundial e que é o investigador mais conceituado sobre as questões da
distribuição do rendimento a nível mundial, dedica na AlJazeera América um
excelente artigo de opinião sobre a iniciativa destes países.
Milanovic sublinha que só três grandes organizações
internacionais escaparam à influência ocidental, o Comintern, o movimento dos não
alinhados e a OPEP. O Brics Bank (designação de Milanovic) regressa a essa orientação,
não deixando de refletir o estádio atual de reorganização da economia mundial. É
cedo para avaliar se a iniciativa vai esgotar-se no lema “anti-Washington” ou
se, pelo contrário, evoluirá no sentido de dotar o mundo em desenvolvimento de
outras modalidades de financiamento que não sejam subordinadas ao ideário que o
Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional têm procurado disseminar. É um
facto que o quadro de ideias e princípios que veicularam o chamado Consenso de
Washington, hoje em farrapos, necessita em termos de princípios orientadores da
economia mundial de uma outra alternativa e começa a haver matéria para iniciar
essa tarefa. Será que o Brics Bank vai pautar-se por essa orientação ou
resvalará para um estatuto de braço financeiro dos regimes políticos implantados
naqueles países?
Não fazendo futurismo, o que poderá dizer-se é
que se a sua implantação for concretizada nada será diferente no financiamento
do desenvolvimento e será curioso monitorizar os seus efeitos na futura conduta
do Banco Mundial.
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