quarta-feira, 2 de julho de 2014

ENVELHECER COM CLASSE



O desporto de alta competição constitui um palco penoso ou estimulante, consoante os personagens e as situações, para acompanhar ocasos ou resistências no que vem sendo chamado de envelhecimento ativo.
Na Copa de 2014, já tivemos a entrada simbólica (para recorde ver) do velho guarda-redes Mondragón da Colômbia, numa cerimónia comovente de transmissão episódica de lugar entre Espina e os 43 anos de Mondragón, tão emocionalmente comentada pelo inimitável e também estimulante Luís Freitas Lobo. E temos tido também casos de pura resistência e classe, como são por exemplo os exemplos do jongleur Karagounis (Grécia), do seguro e rigoroso Yepes (Colômbia), do intransponível Tim Howard (EUA), do sacrificado Rafael Marquez (México) preso na armadilha do imaginativo Robben ou do cerebral Pirlo (Itália), só para recordar os casos que fixaram melhor o meu olhar atento. Perante a resistência e classe que toda esta gente evidenciou em situações de sobreesforço e de alongamento do tempo de jogo, os trintões de Portugal e Espanha pareciam exemplos de reforma antecipada e de trabalho a contragosto.
Como é óbvio, nos chamados desportos individuais a idade relativa do envelhecimento é muito mais baixa. Por exemplo, no ténis, face à juventude e sangue na guelra dos challengers que permanentemente entram no circuito, não há estratégia de posicionamento ou de resguardo inteligente à Pirlo que valha.
Por isso, em tempo de Copa e de simples olhares furtivos ao que se vai passando em Wimbledon, é sempre com prazer que revejo o envelhecimento com classe de Roger Federer, mais evidente na relva do que no cimento ou na terra batida. É também uma oportunidade para reler o incontornável artigo de David Foster Wallace para o New York Times,“Federer como uma religião”.
Federer não é o tenista preferido dos jovens tenistas ou simples amantes da modalidade que sempre se reviram mais em personalidades mais rebeldes como Agassi ou mesmo mais recentemente como Nadal e ser suíço não ajuda, temos de convir. Mas se pensarmos quão inclassificável, indomável e rebelde é a prosa de David Foster Wallace, talvez a leitura desse artigo de culto (que o é também para mim) proporcione um outro olhar sobre o personagem Federer.
Mas envelhecer com classe não é para todos.
P.S. E lá despachou o seu impetuoso colega Wawrinka acedendo às meias-finais.

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