domingo, 13 de julho de 2014

COMPANHEIRO VASCO



Não é o que pensam, não vou falar do alucinado Gonçalves em fase agonizante do PREC, mas sim, imaginem, de Vasco Pulido Valente e da sua crónica de hoje, domingo, no Público, a tal que me faz ler, ao café de sábado e domingo o jornal de trás para a frente.
Pois sendo eu cinco a seis anos mais novo do que VPV e estando a substanciais anos-luz do que ele representa culturalmente para a sociedade portuguesa, a sua crónica “As ruínas da nossa velhice” calou fundo no meu estado de ânimo. Embora convencido ter tratado mal “da minha vidinha, da carreira e da bolsa”, senti-me representado numa manhã cálida de domingo por aquelas palavras amargas mas historicamente rigorosas e dirigidas ao âmago das coisas. Já dei por mim várias vezes a dizer para os meus botões que quando fosse grande (mais velho) não queria ser como o VPV. Isso deve-se sobretudo aquelas crónicas em que a pena resvala para o fel, para a arrogância, para uma insuportável desprezo pelos outros, facetas que abomino. Mas a crónica de hoje tem desânimo e amargura, mas não tem fel, nem arrogância, nem desprezo. Talvez um domingo mais deprimido, mas a minha perceção do inexorável envelhecer sentiu-se bem representado nesta crónica:
(…) Cada um tratou, e não mal, da sua vidinha. Da sua carreira e da sua bolsa. Os partidos tomaram conta da política, com uma irreprimível irresponsabilidade e uma corrupção congénita, contra as quais o cidadão comum era impotente. Cada um meteu-se na sua casca e tentou ignorar o que sucedia fora dela. De qualquer maneira, a aventura deixara algum dinheiro e um módico de liberdade: o que aos 50 anos bastava. Por sorte, na sua imperfeição, a nossa época fora como a “Regeneração” e o “fontismo”, uma época “civilizada”, sem guerras civis, sem “ditaduras”, com menos miséria. Infelizmente, a nossa “sorte” incluía também uma certa esterilidade pessoal e a amargura de uma colectiva desilusão. E à nossa volta sucessivos governos criavam as ruínas da nossa velhice.”

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