A silly season aproxima-se e talvez nesse
registo os portugueses não levem a mal ou mal tenham anotado a atoarda do
primeiro-Ministro no Debate da Nação anunciando: “A
sociedade que queremos construir em Portugal é uma sociedade de pleno emprego,
de participação económica e cívica, e de multiplicação de oportunidades para
todos".
Na verdade, os portugueses que arranjaram algum
dinheirinho para as férias estarão mais interessados em desfrutá-las do que a
incomodar-se com a atoarda e os que as terão, sem as gozar, estarão mais
preocupados em imaginar como é que ultrapassarão esse cabo das tormentas,
tentando que as férias em casa (pais e filhos) não signifiquem mais despesa
para tapar. Outros ainda estarão atentos ao correio para ver se algum reembolso
de IRS poderá compensar alguma imparidade de momento. Por conseguinte, a
generalidade partilhará um “Passos que se dane”.
Mas o despudor com que se pretende, à força,
periodizar a evolução da economia e da sociedade portuguesa, inventando um novo
Cabo das Tormentas, pretensamente já ultrapassado e anunciando o novo desígnio
de uma sociedade de pleno emprego é demasiado evidente para passar em claro. Um
governo que transformou o desemprego de longa duração numa realidade cuja magnitude
já não dá para ocultar debaixo da carpete dos salões de trabalho dos ministros
e que assumiu o propósito de utilizar o desemprego como uma oportunidade de
embaratecimento, pretensamente competitivo, do trabalho, minando o valor social
do mesmo, aparece agora a projetar a utopia da sociedade de pleno emprego. Ao
menos sejam consequentes com o seu ideário e projetem na dinâmica empresarial a
responsabilidade de absorção de uma parte substancial dos recursos humanos
desocupados. Afinal, segudno o governo, a atividade económica estará em franca
recuperação.
Entretanto, António José Seguro lá vai debitando
as suas propostas requentadas em microondas de fraca qualidade e, face a tudo
isto, os portugueses em diametralmente oposta situação face às férias desejarão
uma interrupção, um longo “programa segue dentro de momentos” ou então um
daqueles resets informáticos providenciais que eliminam o problema.
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