Num ápice, todas as principais peças do Grupo Espírito
Santo (GES) pediram regime de proteção de credores, o que significa a derrocada de todo um grupo, pretensamente considerado um baluarte do desenvolvimento económico
português (de que modelo de desenvolvimento?). E persiste no ar um ambiente de
suspeição de que por detrás desta derrocada outras pontas do regime democrático
podem mostrar-se na sua nudez inconveniente e indecorosa. Esse ambiente de
suspeição está presente por exemplo no aparecimento em público tão meloso (como
é o personagem) de Eurico Brilhante Dias, o qual a coberto do Facebook vem clamar com a questão “E se Ricardo Salgado conta o que sabe?”. O que é que a alforreca
Brilhante Dias quererá dizer com essa suspeição? Pretenderá que Ricardo Salgado
precipite com ele outras cumplicidades (iria jurar que Dias estaria a pensar na
corte de Sócrates), quem sabe?
O irritante Joaquim Aguiar tem desta vez plena
razão ao sublinhar que a queda do GES e as novas condições de supervisão
europeia (BCE oblige…) da banca vem reequacionar as condições do financiamento
privado e das suas formas de interação com o financiamento público da economia
portuguesa, podendo representar uma espécie de partir do zero.
A tese dos centros de decisão nacional está tão
rota como o estão as condições financeiras dos principais grupos empresariais
portugueses. As privatizações feitas à pressa e concluídas mesmo antes de
existir lei orientadora representam tudo menos investimento estrangeiro
potencialmente estruturante para a economia portuguesa no domínio dos
transacionáveis. Os grupos que restam, sobretudo os da área da distribuição, não
são estruturantes de coisa nenhuma. A sua internacionalização pode ajudar a
complicar a distinção entre transacionáveis e não transacionáveis mas daí a
contribuir para um modelo de inovação e crescimento prenunciador de um perfil
de especialização para a economia portuguesa vai um passo de gigante. Os
exemplos empresariais bem-sucedidos na área dos sistemas de informação e “software houses” estarão sempre na corda
bamba da aquisição por capital internacional ou da subcontratação com gigantes
do software internacional como a Microsoft, Cysco e outras. Falta-lhes massa crítica
de entorno empresarial para resistir à venda ou à vulnerabilidade da
subcontratação.
Se a minha intuição está certa, não ignorando que
a AutoEuropa e o que ela significa continua a existir, ficaremos de novo
restringidos ao nosso sistema de PME, inovadoras e internacionalizadas. Com o
ambiente de privatizações que alimentámos, já não acredito que a atração de
Investimento Direto Estrangeiro (IDE) efetivamente estruturante atinja os níveis
desejados.
Fica pelo menos a certeza de que se nos resta o
referido sistema de PME então será necessário ajustar os instrumentos de política
pública a essa realidade. A iniciativa que a Gulbenkian realizou no passado dia
22 de julho no Círculo Universitário do Porto dedicada à apresentação do projeto
Noroeste, construído em torno dos ecossistemas de inovação das universidades do
Minho, Porto e Aveiro (no qual as férias me impediram de estar presente) aponta
para a direção certa.
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