sábado, 5 de julho de 2014

PT…PADRIO



Como a minha intuição me avisava, o caso do BES e Grupo Espírito Santo e seus desenvolvimentos iriam fornecer-nos elementos valiosos para a caracterização do capitalismo de compadrio (crony capitalism) à portuguesa. A natureza das redes organizadas que subjazem a essa modalidade de capitalismo é tão particular que só quando se zangam as comadres (a zanga que acendeu os motores foi a da família Queiroz Pereira) é possível aceder via informação pública aos contornos da trama.
O envolvimento da PT e da sua administração executiva no financiamento de curto prazo ao grupo, neste caso da RIOFORTE (mais um ribeirinho agonizante do que um rio com forte caudal) ilustra bem como é uma personalidade como Henrique Granadeiro mergulha fundo nos meandros insondáveis do compadrio (amizades na versão mais bondosa), deixando de fora o conselho de estratégia e a administração não executiva da empresa de decisão tão arriscada.
Os semanários de hoje focam-se na antecipação da perda com que pelos vistos já se trabalha na PT. Os brasileiros não brincam em serviço, não gostaram da partidinha, apresentaram a sua demissão e se a minha intuição continua certa lá se vai a internacionalização da PT pelo cano abaixo. Desmente-se, assim, pelos factos, a pretensa tese governamental de que o negócio com a Oi era uma jogada de mestre na internacionalização da PT. Seria esta a altura de sistematizar a magnitude de dinheiro público que foi sendo vertido para a área de atuação da PT para compreender a natureza enviesada do retorno desse dinheiro público.
Como CEO de uma empresa de muita pequena dimensão e sem membros da família a trabalhar nestes contextos, estou à vontade para tratar este enigma. De facto, nunca entendi como é que o argumento da baixa produtividade relativa das empresas portuguesas face às congéneres internacionais de referência funcionava para justificar baixos salários de trabalhadores ou pelo menos para a sua não subida, enquanto que para as remunerações de CEO e quadros de topo da administração esse argumento comparativo era ignorado. Não é difícil concluir sobre as desproporcionadas remunerações dos CEO portugueses das empresas de maior dimensão quando confrontados com a debilidade do capitalismo nacional. Isso é válido para a banca, mas não só, a começar pelas empresas públicas de maior notoriedade.
Na minha interpretação, o “crony capitalism” precisa de acólitos, piões de brega, contabilistas diligentes, yes men e outros figurões de um vasto painel, cujo rol daria para um post autónomo. É nesse contexto que se explicam as elevadas remunerações comparativas e a chamada corte lisboeta alimenta-se do extra de poder de compra que todo este aparato proporciona. Custa dizê-lo, mas o alento que o Governo Sócrates deu aos não transacionáveis (atenção a Costa e seus seguidores), alavancou seriamente todo este mundo. Não posso deixar de estar em perfeito uníssono com Pacheco Pereira quando ele proclama que é moralmente inaceitável colocar no mesmo saco da culpa os figurões que povoam este universo e a família da classe média que se endividou (respondendo à solicitude da banca) para compor a sua sala de estar, comprar um carro novo ou mesmo fazer umas férias no estrangeiro.
Por isso, é patética a reverente carta aberta que Nicolau Santos dirige a Henrique Granadeiro hoje no Expresso. Portugal não é um país de brandos costumes. É um país de gente comprometida, reverente e sempre à espreita de uma migalhinha do bolo do crony capitalism e os jornalistas de laço, gravata ou camisa aberta estão no rol dessa gente comprometida.
 

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