Como a minha intuição me avisava, o caso do BES e
Grupo Espírito Santo e seus desenvolvimentos iriam fornecer-nos elementos
valiosos para a caracterização do capitalismo de compadrio (crony capitalism) à portuguesa. A
natureza das redes organizadas que subjazem a essa modalidade de capitalismo é
tão particular que só quando se zangam as comadres (a zanga que acendeu os
motores foi a da família Queiroz Pereira) é possível aceder via informação pública
aos contornos da trama.
O envolvimento da PT e da sua administração
executiva no financiamento de curto prazo ao grupo, neste caso da RIOFORTE
(mais um ribeirinho agonizante do que um rio com forte caudal) ilustra bem como
é uma personalidade como Henrique Granadeiro mergulha fundo nos meandros insondáveis
do compadrio (amizades na versão mais bondosa), deixando de fora o conselho de
estratégia e a administração não executiva da empresa de decisão tão arriscada.
Os semanários de hoje focam-se na antecipação da
perda com que pelos vistos já se trabalha na PT. Os brasileiros não brincam em
serviço, não gostaram da partidinha, apresentaram a sua demissão e se a minha
intuição continua certa lá se vai a internacionalização da PT pelo cano abaixo.
Desmente-se, assim, pelos factos, a pretensa tese governamental de que o negócio
com a Oi era uma jogada de mestre na internacionalização da PT. Seria esta a
altura de sistematizar a magnitude de dinheiro público que foi sendo vertido
para a área de atuação da PT para compreender a natureza enviesada do retorno
desse dinheiro público.
Como CEO de uma empresa de muita pequena dimensão
e sem membros da família a trabalhar nestes contextos, estou à vontade para
tratar este enigma. De facto, nunca entendi como é que o argumento da baixa
produtividade relativa das empresas portuguesas face às congéneres internacionais
de referência funcionava para justificar baixos salários de trabalhadores ou
pelo menos para a sua não subida, enquanto que para as remunerações de CEO e
quadros de topo da administração esse argumento comparativo era ignorado. Não é
difícil concluir sobre as desproporcionadas remunerações dos CEO portugueses
das empresas de maior dimensão quando confrontados com a debilidade do capitalismo
nacional. Isso é válido para a banca, mas não só, a começar pelas empresas públicas
de maior notoriedade.
Na minha interpretação, o “crony capitalism” precisa de acólitos, piões de brega,
contabilistas diligentes, yes men e
outros figurões de um vasto painel, cujo rol daria para um post autónomo. É nesse contexto que se explicam as elevadas
remunerações comparativas e a chamada corte lisboeta alimenta-se do extra de
poder de compra que todo este aparato proporciona. Custa dizê-lo, mas o alento
que o Governo Sócrates deu aos não transacionáveis (atenção a Costa e seus
seguidores), alavancou seriamente todo este mundo. Não posso deixar de estar em
perfeito uníssono com Pacheco Pereira quando ele proclama que é moralmente
inaceitável colocar no mesmo saco da culpa os figurões que povoam este universo
e a família da classe média que se endividou (respondendo à solicitude da
banca) para compor a sua sala de estar, comprar um carro novo ou mesmo fazer
umas férias no estrangeiro.
Por isso, é patética a reverente carta aberta que
Nicolau Santos dirige a Henrique Granadeiro hoje no Expresso. Portugal não é um
país de brandos costumes. É um país de gente comprometida, reverente e sempre à
espreita de uma migalhinha do bolo do crony
capitalism e os jornalistas de laço, gravata ou camisa aberta estão no rol
dessa gente comprometida.
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